Recordista na Fórmula 1 com uma sequência de nove vitórias consecutivas, Alberto Ascari foi um piloto supersticioso. Tinha pavor de gatos pretos, escadas e jamais permitia que um estranho colocasse as mãos em seu capacete azul, que o acompanhava em qualquer corrida. Sua vida e sua morte foram marcadas por tantas estranhas coincidências que parecem até justificar a crendice que marcou sua personalidade. Filho do piloto Antonio Ascari, Alberto morreu em um dia 26, assim como seu pai. Ambos tinham a mesma idade, o mesmo número de vitórias (13) e se acidentaram em uma saída de curva de forma bem semelhante, quatro dias depois de escaparem de um outro acidente grave. Tanto Antonio quanto Alberto eram casados e deixaram dois filhos órfãos.

Conhecido por respeitar os limites do carro, o italiano Ascari era um piloto técnico e ponderado. Talvez por ter perdido o pai ainda criança, sempre respeitou a pista e tinha um talento incrível para dominar com precisão o veículo que conduzia. Seu envolvimento com as corridas se deu através das motos, quando tinha 19 anos e assinou com a equipe Bianchi. A mudança para os carros aconteceu 12 anos depois, pelas mãos de Enzo Ferrari, amigo de sua família. Mas a guerra parecia ter colocado um ponto final em sua carreira de piloto. A oficina da família foi recrutada para o serviço militar e Ascari envolveu-se com novas empresas de fornecimento de combustível ao Exército, em sociedade com o também piloto Luigi Villoresi. Tornou-se um empresário em tempo integral.

Casado e pai de dois filhos, Patrizia e Antonio, já não pensava mais no automobilismo até que Villoresi conseguiu convencê-lo de que era hora de voltar às pistas. Seu retorno foi em 1947 e no final daquele ano conquistou sua primeira vitória, no circuito de Modena, pela Ferrari. Dois anos mais tarde, em 1949, já era piloto oficial da equipe italiana e uma das maiores promessas do esporte. No mesmo ano, venceu o GP de Bari e foi transferido para a F1. Na época, uma recém-criada categoria de monopostos topo de linha. Seu triunfo veio em 1952 quando venceu o campeonato com uma sucessão de vitórias nos GPs da Bélgica, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Holanda e Itália. Foi o primeiro colocado em seis dos oito grandes prêmios daquele ano. Na temporada seguinte, continuou invicto, vencendo na Argentina, e novamente na Holanda e na Bélgica e ganhando o campeonato pela segunda vez. Um recorde de nove vitórias consecutivas que permanece até hoje.

Nos anos seguintes, Ascari pilotou para a Lancia. Na temporada de 1954 correu poucas provas por conta de problemas no carro e começou para valer com a equipe no ano seguinte. Mas as coisas ainda não iam bem. Na corrida de Mônaco, quando estava liderando com o Lancia D50, depois de abandonar duas outras provas, Ascari perdeu o controle do carro e caiu no mar. Foi resgatado por mergulhadores e teve apenas ferimentos leves e uma lesão no nariz. Quatro dias depois, foi ao circuito de Monza assistir aos treinos de uma Ferrari que participaria de uma prova de longa duração. Pediu ao colega Eugenio Castellotti para dar algumas voltas no circuito. Ele queria começar a pilotar o quanto antes para superar o trauma do acidente. Vestindo paletó e gravata, deixou de lado a superstição e pegou emprestado o capacete de Castellotti, já que seu capacete azul da sorte tinha sido avariado dias antes. Na terceira volta, na saída da curva que hoje leva seu nome, Ascari perdeu o controle da Ferrari, bateu forte e morreu. Aos 36 anos, no dia 26 de maio de 1955. As causas do acidente até hoje permanecem como um dos maiores mistérios da Fórmula 1. Dizem que ele tentou desviar de alguém que cruzou a pista. Muitos acreditam até que ele possa ter sofrido um desmaio por conta do recente acidente com o Lancia. Mas a verdade do que aconteceu naquela curva jamais virá à tona.