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Lewis Hamilton, agora tetracampeão mundial de Fórmula 1, é tudo isso mesmo? É. A carreira desse piloto de 32 anos, nascido em Tewin, na Inglaterra, é impressionante desde sua entrada na F1. Em 11 temporadas, foi campeão em quatro (2008, 2014, 20154 e 2017) e vice em duas (2007 e 2016). De 2009 a 2013 – período dominado por Sebastian Vettel e que teve um título de Jenson Button –, a pior colocação de Lewis no campeonato foi um 5º lugar na temporada (2011); em todas as outras terminou o campeonato em 4º lugar.

Ainda falando dos números, Lewis disputou 207 GPs de Fórmula 1. Em 117 deles, largou na primeira fila; em 72, fez a pole position, superando os recordistas Michael Schumacher e Ayrton Senna. Não é desprezível o fato de que as poles, nos últimos anos, são conquistadas por pilotos com capacidade para andar muito rápido numa única volta, sem qualquer possibilidade de errar. Não há pneu para tentar uma segunda volta rápida. Isso diz muito sobre a velocidade de Lewis. Porém, nesse quesito, ele ainda perde percentualmente para Juan Manuel Fangio (56,9%), Jim Clark (45,8%), Alberto Ascari (43,8%) e o próprio Senna (40,4%). Lewis fez a pole em 34,8% de suas corridas.

O sobrenome Hamilton sempre esteve associado à Mercedes-Benz. Suas primeiras 21 vitórias foram pela McLaren, mas o motor era Mercedes. As outras 41 vitórias foram todas pela equipe Mercedes (carro e motor). Sorte? Talvez. Afinal, não é todo piloto que tem a chance de estrear numa equipe de ponta. Mas talvez a palavra certa seja competência mesmo. Lewis Hamilton estreou na F1 em 2007, na equipe Vodafone McLaren Mercedes, dirigindo um MP4-22 ao lado de ninguém menos que o bicampeão Fernando Alonso (que vinha dos títulos com a Renault em 2005 e 2006). Estava tudo escrito para Fernando ser tricampeão, mas esqueceram de combinar com Lewis.

Logo em sua sexta corrida, depois de quatro segundos lugares consecutivos, Lewis fez a pole e venceu o GP do Canadá. Terminou sua primeira temporada como vice-campeão, com quatro vitórias e os mesmos 110 pontos do experiente Fernando Alonso – e apenas um ponto atrás do campeão, Kimi Raikkonen, que, como todos sabem, chegou ao título porque herdou a vitória do companheiro ferrarista Felipe Massa, no GP do Brasil.

Mais consistente que velhos mitos

Mesmo no período em que guiou carros inferiores (2009 a 2013), Lewis teve uma carreira brilhante, acumulando 13 vitórias nessas cinco temporadas. Só uma a menos do que o nosso adorado Emerson Fittipaldi conseguiu de 1970 a 1975, dirigindo para a Lotus e para a McLaren. Lewis foi construindo sua estatística com muita competência, versatilidade (anda bem no seco e na chuva; é rápido em classificação e em corrida), mostrando mais consistência do que feras consagradas como Ronnie Peterson e Gilles Villeneuve, só para citar dois ícones dos anos 1970 e 1980.

Quando voltou a ter o melhor carro, a partir de 2014, Lewis transformou-se num devorador de recordes. Foi construindo uma base estatística impressionante e já tem 3.514 voltas na liderança (equivalentes a 17.851 km). Com 62 vitórias (29,9%), só perde para o mitológico Michael Schumacher. Mas, por conta do período em que Michael ajudou a desenvolver o carro da Mercedes enquanto Lewis ganhava corridas pela McLaren, o alemão já foi ultrapassado na porcentagem de vitórias por GP, pois tem 29,6%.

Correndo com o 44 desde que a Fórmula 1 permitiu que os pilotos escolhessem seus números favoritos, o inglesinho que corria de kart na região de Hertfordshire transformou as inscrições HAM44 em um dos códigos mais poderosos da F1: ao ver essa combinação de letras e números, todos sabem que Lewis Hamilton está no jogo. É verdade que ele foi batido por Nico Rosberg em 2016 e que seu atual companheiro, Valtteri Bottas, ainda não demonstrou aquela gana de vencer, mas Lewis nunca se posicionou como imbatível. Já foi arrogante e distante do público, mas qual esportista jovem de grande sucesso mundial nunca cometeu esse pecado?

Na temporada que termina agora em Abu Dhabi, Lewis correu focado. Manteve a faca nos dentes e levou Sebastian ao desespero. Contou com alguns erros da Ferrari para disparar no Mundial e chegou ao título no GP do México, faturando apenas 2 pontos. Com 345 pontos, venceu nove grandes prêmios: China, Espanha, Canadá, Grã-Bretanha, Bélgica, Itália, Cingapura, Japão e EUA. Seb faturou cinco, Valtteri levou dois e a dupla da Red Bull Racing, Max Verstappen e Daniel Ricciardo, ganhou três. Ou seja: Lewis sozinho venceu só uma corrida a menos do que todos os outros rivais – e ainda falta um GP.

DNA vencedor com a Mercedes-AMG

Ao volante de um carro magnífico, o Mercedes-AMG F1 W08, equipado com um motor V6 Turbo Híbrido e calçado por pneus Pirelli, Lewis Hamilton não teve grandes preocupações a não ser pilotar. O time comandado por Toto Wolf é um case de sucesso tão grande quanto aquele que deu dois campeonatos mundiais a Fangio em 1954 e 1955, com o modelo W196. Toto administra o time com a precisão que se espera de uma equipe cujo DNA, a Mercedes-AMG, é referência em carros esportivos e motores supereficientes com as mais avançadas tecnologias.

Antes do GP do Brasil, Toto foi categório sobre o grande momento de Lewis: “Eu tenho trabalhado com ele há cinco anos, e nunca o vi atuar em um nível tão alto. O ritmo é espetacular. Ele entende os pneus e a capacidade do carro que, às vezes, não foi fácil de dirigir. Eu não tenho visto uma performance tão sustentada nesse nível. Depois de um momento difícil em Abu Dhabi no ano passado, tivemos uma longa noite na minha cozinha, durante a qual falamos de todas as frustrações e problemas que cresceram ao longo dos anos e jogamos isso fora”.

Toto Wolf diz que aquela conversa foi fundamental para o sucesso de Lewis em 2017: “Eu acho que nós dois sentimos uma sensação de alívio, e foi quando o relacionamento foi para o próximo nível. Ele saiu nas férias de inverno e voltou com uma ótima mentalidade. Ele se tornou mais forte ao longo do ano. O relacionamento com Valtteri também é um fator importante. Temos um grande espírito dentro da equipe. Essa foi uma parte importante da serra de vaivém.”

Lewis Carl Hamilton completará 33 anos no dia 7 de janeiro. A temporada de 2018 começa no dia 25 de março, na Austrália, e dessa vez terá 21 corridas. A Fórmula 1 mudou de mãos e está melhorando, recuperando algumas tradições, fortalecendo seu público. Lewis já fez história – e a nossa galeria de fotos da atual temporada traz só o último capítulo dela –, mas ainda pode bater outros recordes, quem sabe ganhar mais campeonatos. Um bom carro, o time Mercedes AMG Petronas Motorsport garante. Talento ele tem de sobra. Vai depender apenas de seu foco.