21/05/2025 - 7:00
Com mais de 20 anos de carreira no jornalismo, Mariana Becker se consagrou como um dos símbolos da cobertura do automobilismo. Atualmente, a gaúcha de 54 anos é correspondente oficial nas corridas da Fórmula 1 pela TV Band. Em entrevista à MOTOR SHOW, Becker relata experiências pessoais ao longo da carreira e aponta avanços no tratamento dos pilotos dentro da categoria.
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Saúde mental dos pilotos na Fórmula 1
Questionada sobre o aumento de discussões quanto à saúde mental e o acolhimento dos atletas, Mariana comenta que ficou surpresa quando Lando Norris sofreu com repercussões negativas no momento em que começou a compartilhar suas lutas pessoais.
“Felizmente isso tem começado a ser trazido à tona. Alguns pilotos buscam apoio ou por psiquiatra, ou psicólogo, alguns deles fazem um trabalho mental de ioga, cada um tem a sua história. Mas em geral, as equipes não trazem uma pessoa para auxiliar internamente, como vemos em outros esportes”, afirma Becker.
A comunicadora continua ressaltando que, apesar do suporte ser um bom caminho, não são todos os pilotos que se sentem bem em compartilhar seus desafios mentais, mas “é importante falarmos sobre os problemas que os afligem e criarmos uma abertura para aqueles que sentem essa necessidade”.
“O [Fernando] Alonso, por exemplo, é um dos que não gosta de falar de nenhuma falha dele. Ele me disse isso numa entrevista, ‘não gosto de falar dos meus defeitos porque eu estou dando munição para os meus adversários’. Eu não vejo como demonstração de fraqueza, mas é como a pessoa lida com a situação”, completa Mariana.
Sobre a reposta da imprensa às essas discussões, a jornalista acredita que a maioria dos veículos internacionais ainda não reagem de forma positiva à demonstração de sentimentos e dificuldades mentais.
Mesmo com diversas barreiras, o esporte tem caminhado para uma evolução e a ação e visibilidade dos pilotos dentro dessas temáticas está buscando criar um ambiente mais abrangente.

Representatividade no esporte
Em relação ao aumento de jornalistas mulheres e latinos nas coberturas, Mariana comemora a evolução e reforça que a luta por essa inclusão é constante.
“Fico muito feliz e muito orgulhosa de poder inspirar as pessoas, porque quando eu comecei não tinha quase nenhuma mulher. Hoje em dia as coisas estão mudando cada vez mais e trazendo novas personalidades. É o fato de você balançar a bandeirinha e dizer que dá para fazer temos vontade e que podemos ser diferentes”, declara.
Apesar de não sentir que oportunidades são perdidas por seu gênero ou nacionalidade, ela afirma que no começo o cenário era “bem diferente” e que a eliminação dessa disparidade foi ocorrendo gradativamente.

Dificuldades na cobertura
Presente em mais de 100 Grande Prêmios, ela compartilha seus momentos favoritos e os maiores empecilhos encontrados diariamente como especialista na categoria. Becker relata que as corridas em que precisa noticiar uma morte ou um grave acidente são os eventos mais tensos de sua carreira.
“Todas as vezes que eu achei que eu ia ter que cobrir uma morte foram horríveis, a do [Jules] Bianchi, do próprio Anthoine Hubert, ou quando o [Romain] Grosjean se acidentou. São aqueles minutos ou segundos que não terminam nunca e que você não sabe se o cara vai sair vivo dali, aí já temos que começar a pensar como é que vamos contar”, compartilha.
Questionada sobre memórias marcantes, a jornalista diz que despedidas, aposentadorias e grande ultrapassagens são as mais presentes na lista. Ela ressalta sobre a tristeza que sentiu quando Sebastian Vettel decidiu deixar a categoria, grandes pilotagens entre Rubinho Barrichello e Michael Schumacher e vitórias inesperadas de diversas equipes.
“Eu convivo com esses caras o tempo inteiro, ao mesmo tempo que eles estão fora de casa, eu também estou. Criamos uma conexão nesses encontros, ainda mais se você acaba conhecendo a família, os amigos, a equipe deles”, finaliza a comunicadora.

*Estagiária sob supervisão