04/10/2025 - 18:00
O mercado de sedans passa por um momento delicado: a impressão que se tem é a de que os fabricantes de automóveis não estão muito interessados nesse, hoje, pequeno e não tão interessante segmento no Brasil. A começar pela diferença de preço da versão hatch e da sedan de um mesmo carro: os primeiros conseguem valores bem mais atraentes desde as versões de entrada, enquanto os segundos cobram caro.
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Cobrando por metro
Vale lembrar que as duas configurações são praticamente idênticas, com apenas a diferença do terceiro volume (porta-malas) nos sedans. Equipamentos, motorização, construção e até design da coluna C para frente. Só que um hatch custa bem menos. Parece que as fabricantes cobram por metro…

Exemplos não faltam: um Hyundai HB20 Comfort hatch sai por R$ 94,6 mil e um sedan equivalente custa mais de R$ 103 mil, um VW Polo TSI manual sai por R$ 107,8 mil e um Virtus semelhante custa R$ 120 mil, um Chevrolet Onix LT é tabelado em R$ 100 mil e um Onix Plus similar sai por quase R$ 107 mil.

Argo e Cronos: maiores diferenças
Porém, a maior discrepância aparece dentro da linha Fiat: um Argo Drive e um Cronos Drive, dependendo da motorização, podem ter R$ 13 mil de diferença entre eles! Falamos do mesmo powertrain, equipamentos de série, design básico e lateral, cabine compartilhada e construção geral. O espaço interno é o mesmo nos dois, também.
Justamente para tentar entender essa diferença, decidi passar sete dias a bordo de um Fiat Cronos 1.3 automático, aquele com transmissão CVT e motor Firefly. Um carro honesto, que oferece baixíssimo consumo de combustível, bastante conforto, espaço interno agradável e um dos melhores porta-malas do país (525 litros). Também vem bem equipado, com faróis em LED, multimídia de 7” com conexões sem fio, vidros elétricos nas quatro portas, volante multifuncional, piloto automático e por aí vai.
Bacana. Só que ele custa R$ 11 mil a mais que um Argo 1.3 CVT idêntico, com tudo isso que citei acima, inclusive as vantagens. Tirando o porta-malas, claro: no hatch são 300 litros, afinal ele não dispõe da “bundinha” traseira que aumenta o bagageiro. De quebra, o Argo consegue beber menos combustível e andar mais, já que tem peso menor.

Esse movimento, vale falar, não é só da Fiat com Argo e Cronos. VW, Hyundai e Chevrolet seguem o mesmíssimo caminho com seus modelos compactos: encarecem bem mais os sedans. Mas, será que então as marcas não querem vender sedans? Talvez…
SUVs atrapalham

Te explico: o mercado de sedans vem perdendo espaço para o de SUVs, especialmente os pequenos, aqueles derivados de hatches. Hoje, é muito mais fácil o consumidor querer levar para casa um Pulse 1.3 CVT ao invés de um Cronos 1.3 CVT, e, de quebra, o SUV custa R$ 3,5 mil a menos. Dependendo, pode ser mais vantajoso fabricar e vender um Pulse do que um Cronos, levando em conta que o primeiro é feito em Betim (MG) e o segundo vem de Córdoba, na Argentina.

E, à medida que os sedans vão vendendo menos aqui no Brasil, ocorre a piora da economia de produção em escala: quanto menos exemplares se fabrica, mais cara cada unidade acaba custando para a fábrica. Hora do trabalhador, maquinário em operação, compras de peças com fornecedores e outras variáveis levam a isso.
Custo de produção mais alto leva a preço de mercado mais salgado. E aí ocorre o efeito “bola de neve”, levando o consumidor a perder o interesse pelo sedan pequeno. Caminho perigoso. No caso do Fiat, isso se reflete nas vendas: em setembro, o Cronos emplacou cerca de 1.600 unidades, enquanto o Pulse beirou os 3.800 carros e o Argo chegou perto dos 9.500 exemplares comercializados. São dados da Fenabrave.

Hatches e SUVs vendendo mais que sedans
Ainda que com menor discrepância, esse efeito de SUVs pequenos e hatches venderem mais que sedans também ocorreu nas demais fabricantes citadas (na Volks, o Polo rondou os 10,5 mil carros, o Tera vendeu quase 7,6 mil e o Virtus não chegou aos 3 mil emplacamentos), sempre com base no ranking da Fenabrave de setembro.

Os sedans, porém, ainda são a preferência de quem precisa de porta-malas gigante, afinal nenhum dos hatches ou SUVs pequenos atinge o mesmo espaço para bagagens de um três volumes equivalente. Em alguns casos, como o do VW Virtus, o espaço para os passageiros também é maior, graças a plataforma com entre-eixos mais generoso (2,65 m, contra 2,56 m de Polo e Tera).

Sedan vale a pena em 2025?
Se você precisa impreterivelmente de porta-malas, ou até de um espaço interno um pouquinho maior, sem dúvidas os sedans saem na frente de hatches ou SUVs pequenos. Dependendo do seu gosto, o design também pode ser um ponto decisivo: tem quem não goste de carros altinhos, utilitários, preferindo as linhas mais tradicionais dos modelos de três volumes. O Cronos? Ótimo sedan, mas com duas pedras no sapato chamadas Argo e Pulse.
