A quebra da barra de direção logo antes da curva Tamburello, no Grande Prêmio de San Marino, no primeiro dia de maio de 1994, interrompeu a vida e a carreira do piloto Ayrton Senna, que completaria 60 anos hoje. Mas, mesmo que não esteja de corpo presente, o brasileiro segue sendo uma lenda na Fórmula 1. Talvez a maior delas.

+ A morte de Ayrton Senna não foi em vão
+ Será que Senna só foi campeão quando teve o melhor carro?
+ O Gol GTI de Ayrton Senna: o esportivo que nem o campeão viu

E um dos motivos para isso é que muitos dos recordes conquistados por Senna seguem intactos. Por exemplo, no que se refere ao número de poles, 65, o inglês Lewis Hamilton superou seu ídolo brasileiro em 2017. Mas ninguém bateu Senna em poles consecutivas. Foram 8 seguidas, entre o GP da Espanha em 1988 e o dos EUA em 1989.

PreviousNext

Nesse quesito, uma outra marca impressionante de Senna é que, entre as 10 séries de poles consecutivas, o brasileiro figura em quatro delas. Além das 8 mencionadas acima, ele teve um outra série de sete poles entre o GP da Espanha em 1990 e o de Mônaco em 1991. Ele ainda conquistou duas séries de seis melhores voltas em treinos classificatórios: uma entre o GP do Brasil e dos EUA em 1988; e outra entre o GP da Bélgica e da Austrália em 1989.

O ano de 1989 registrou outro recorde de Senna. É que na temporada da Fórmula 1 daquele ano, o piloto brasileiro largou na primeira fila em todas as 16 corridas. A série de largadas entre os primeiros começou em 1988 na Alemanha. Somadas as duas temporadas, foram 24 vezes seguidas largando entre as duas primeiras posições do grid.

Esse é mais um recorde que Hamilton apenas beliscou. Ainda hoje, nos 60 anos de Senna, o piloto britânico, segundo colocado neste ranking, atingiu a marca de 20 largadas na primeira fila.

Senna no GP de Donnington em 1993: de sexto a líder na primeira volta.
Senna no GP de Donnington em 1993: de sexto a líder na primeira volta. Foto: Martin Lee – https://www.flickr.com/photos/kartingnord/14028517703/, CC BY-SA 2.0, Link

De ponta a ponta
Quando ele morreu, uma faixa feita por um fã dizia: “os domingos nunca mais serão os mesmos”. E não foram, ainda hoje quando Senna completaria 60 anos. Uma das frases que o torcedor brasileiro do piloto mais ouviu nos dias de provas foi “Ayrton Senna, de ponta a ponta”. O jargão, um dos tantos cunhados pelo narrador Galvão Bueno, foi dito em 19 corridas.

Esse é o número de vitórias que Senna conquistou largando na pole position. E para ter uma vitória considerada “de ponta a ponta” não basta largar na pole e chegar em primeiro. O termo é aplicado apenas quando um piloto não completa nenhuma volta sem estar na liderança da prova. Os segundos colocados deste ranking são o alemão Sebastian Vettel e Hamilton, cada um com 15 vitórias nessas condições.

O rei do principado
A prova mais icônica da Fórmula 1 é a disputada nas ruas de Mônaco. Ela faz parte da Tríplice Coroa do Automobilismo, ao lado das 500 milhas de Indianápolis e das 24 Horas de Le Mans. E no principado de Mônaco, Ayrton Senna ainda é rei. Ele é o piloto que mais venceu a prova. Foram seis vezes: 1987, e de 1989 a 1993.

Prost e Senna protagonizaram uma das maiores rivalidades do esporte.
Prost e Senna protagonizaram uma das maiores rivalidades do esporte. Foto: Angelo Orsi – Foto extraída de outro arquivo: Senna Prost and Boutsen Montreal 1988.jpg, CC BY 2.0, Link

Foi a disputa nas ruas de Mônaco que acirrou a rivalidade entre Ayrton Senna e o francês Alain Prost. Entre 1984 e 1993 a prova foi vencida por um dos dois pilotos. O francês tem quatro vitórias no circuito. E uma delas é alvo de polêmica até hoje.

Em 1984, Senna era estreante na Fórmula 1 com a humilde Toleman, e Mônaco foi sua quarta prova. Ate então, na temporada, ele havia abandonado a prova no Brasil, conquistado seu primeiro ponto na África do Sul, e sequer disputado a terceira corrida em Ímola. A forte chuva que castigou Mônaco no domingo durante a prova fez com que a corrida fosse encerrada na 31a. volta.

Senna, eu sua quarta corrida na carreira, chegou em segundo. Mas a expressão do brasileiro no pódio, claramente incomodado, seria motivo de muita especulação. Quando a prova foi interrompida, Prost, na poderosa McLaren, liderava a corrida. Senna, que havia largado em 13o., já ocupava a segunda posição e estava colado no francês. A ultrapassagem seria inevitável.

Anos depois, o jornalista Reginaldo Leme, contou que Jacky Ickx, então diretor de prova no GP de Mônaco e responsável pela interrupção da corrida (e consequente vitrória de Prost), revelou em uma conversa com ele que a ordem veio de cima. Jean Marie-Balestre, presidente da FIA (compatriota e amigo de Prost) ordenou que a corrida fosse encerrada.

Mas se a provável vitória de Senna em 1984 foi alvo de cartolagem, quatro anos, em 1988, ele não teve essa desculpa. Naquele ano, Senna liderava a prova com 50 segundos de vantagem para o segundo colocado: Prost, seu então companheiro de equipe. Numa curva, pouco antes da entrada do túnel, Senna errou e bateu sozinho no muro.

Entretanto, 1992 seja talvez sua vitória mais impressionante no circuito e uma das mais marcantes de sua carreira. Naquele ano, ninguém era páreo para as Willians e seu inovador sistema de suspensão ativa que estabilizava o carro de forma impressionante.

Mesmo assim, Senna segurou o britânico Nigel Mansell por impressionates 5 voltas em uma das disputas mais impressionantes da Fórmula 1 até hoje. Essa coleção de momentos marcam os 60 anos de Senna e o mantém como lenda absoluta do automobilismo.