24/05/2017 - 8:00
Foi realmente 23 anos atrás? Minha mente afirma – porque 2017 menos 1994 dá 23 – mas meu coração não quer acreditar nisso. Parece que foi ontem que escutei a notícia, no autódromo americano, o Michigan International Speedway, onde eu estava começando um teste na Indycar, pé no fundo e tanque cheio. Meu chefe de equipe interrompeu o teste para me chamar para o box da Penske e me dar o telefone. Minha esposa me disse que Ayrton Senna acabava de morrer em Imola.
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Já falei sobre o Ayrton antes, mas agora queria dizer mais sobre ele. Quero tentar falar mais sobre o enorme significado de sua morte, que permanece até hoje na Fórmula1, no Brasil e para mim. Primeiro quero voltar para 7 de abril de 1968. Eu tinha 21 anos e ainda estava em São Paulo. Me preparava para correr com um carro que eu mesmo desenhei, o Fitti Protótipo, participando dos 1.000 km de Brasília no sábado seguinte, dividindo a pilotagem com meu amigo Lian Duarte.
Eu nunca havia estado na Europa, mas meus heróis eram todos europeus: Ghaham Hill, Jackie Stewart e Jim Clark. E naquele sábado em 1968, meu pai Wilson, que era comentarista de TV e rádio no Brasil, soube que Jim Clark havia falecido em uma corrida de Fórmula 2 em Hockenheim naquela tarde. Quando ele me deu aquela terrível notícia, eu me senti profundamente chocado. E, quando eu soube, 26 anos depois, do acidente de Ayrton, apesar do fato de eu ter na época 47 anos e não mais 21, senti o mesmo choque profundo.
Até hoje, quando o pessoal de competição se encontra para discutir o esporte, e o assunto se volta para quem foi o maior de todos os tempos, Clark e Senna são normalmente mencionados mais frequentemente que outros pilotos, disputando “o maior” talvez apenas com Juan Manuel Fangio. Mas, Juan Manuel morreu em uma cama de hospital, com 84 anos, enquanto Jim e Ayrton morreram ao volante de um carro de competição monoposto, de apenas um assento, com 32 e 34 anos respectivamente, dirigindo o mais rápido possível. E ninguém vai saber exatamente a causa de seus acidentes.
E eles tinham mais em comum do que o fato de morrerem jovens e terem a habilidade de pilotar carros de competição mais rapidamente que seus rivais, já que na época de suas mortes eles eram ambos considerados quase imortais. Tanto que, quando meu pai disse que Jim havia falecido, tudo que pude dizer foi: “Não, eu não acredito”. E não era apenas uma forma de falar, realmente eu não acreditava. Com podia? Jim, o maior piloto sobre a Terra, morrer em um acidente em Hockenheim? Mas era verdade, assim como foi 26 anos mais tarde, em 1994, quando Ayrton morreu em Imola.