Em uma primeira impressão, os preços do Fiat Cronos, anunciados na semana passada, surpreenderam. Os valores, agressivos, seriam até a confirmação de que o sedã não seria rival direto do Volkswagen Virtus, outro importante lançamento recente, e sim de Chevrolet Prisma, Hyundai HB20S, Toyota Etios e cia. E tudo bem, a Fiat tem razão em dizer que o carro mira principalmente nesses modelos – afinal, vai mesmo brigar com eles, e, por serem mais baratos, até em maior volume. Mas, considerando que os hatches dos quais derivam, Argo e Polo, também brigam diretamente, e olhando melhor para os preços dos dois sedãs e de seus opcionais, o Fiat Cronos claramente também disputa o consumidor, sim, com o Volkswagen Virtus.

E, na verdade, o Cronos não é tão mais barato que o Virtus. Só tem opções mais “peladas”, ou menos equipadas, se preferir. Uma questão de oferta. Mas, antes de falar disso, há nessa disputa uma outra questão: a do tamanho. Se é que importa tanto assim.

QUESTÃO DE TAMANHO

Dizer que o Cronos não compete com o Virtus por ter cerca de 12 cm a menos no comprimento ou entre-eixos não faz sentido. Para quem compra carro por metro (alguém?), pode ser que não sejam concorrentes. E para quem usa o ranking de vendas da Fenabrave como única referência, podem não ser rivais diretos, pois o Virtus é classificado como “sedan compacto”, junto com Chevrolet Cobalt, Honda City e New Fiesta, e o Cronos será “sedan pequeno”, junto com Prisma, Toyota Etios e Hyundai HB20S.

Mas esse ranking já teve (e tem) incoerência, pois parece não seguir critérios técnicos, mas o interesse das marcas. Vamos a dois exemplos nessas categorias – sendo os próprios nomes das categorias, “pequenos” e “compactos”, nada claros. O que é maior? Segundo a Fenabrave, os compactos seriam maiores que os pequenos, mas não é assim: olhando para distância entre-eixos, o “compacto” Ford Fiesta Sedan é menor que o “pequeno” Cronos (tem só 2,489 m, menos do que os 2,521 m do Fiat); olhando para comprimento, o “pequeno” Nissan Versa é maior que o “compacto” Virtus (tem 4,492 m, contra 4,482 m). Ah, e o “compacto” Fiesta tem 4,406 m.

Se o Cronos é 8 cm mais longo que o Prisma e 10 cm mais comprido que o Etios, não é por isso que vai deixar de competir com eles. Assim como não vai deixar de brigar com o Virtus. Porque na hora de comprar um carro, antes de pegar a fita métrica o consumidor consulta a conta bancária. Para o brasileiro, o que mais importa é o preço, como já mostraram outras brigas inusitadas, como Honda Civic vs Ford Fusion (leia aqui).

Claro que espaço interno e porta-malas importam, sobretudo em carros familiares, mas nem sempre as medidas externas revelam tudo sobre o espaço no interior do carro (o Honda Fit, por exemplo, acaba de crescer quase 10 cm apenas nos para-choques; por dentro não mudou nada). E nem sempre o espaço para as pernas de quem viaja atrás é importante. Depende muito do uso. Pode ser uma vantagem, pode não ser tudo isso.

Esclarecido que classificação e tamanho não dizem tudo, vamos ao que mais importa.

QUESTÃO DE PREÇO

A primeira impressão, anunciados os valores do Cronos sem especificar pacotes e custos dos opcionais, realmente foi de que os preços da Fiat são agressivos, de que o jogo da Fiat não seria mesmo contra o Virtus. Cronos com versão de entrada a R$ 53.990, automática a R$ 60.990 e topo de linha a R$ 69.990? Pareciam mesmo valores bem mais atraentes que os do Virtus –  R$ 59.990, R$ 73.490 e R$ 87.040, respectivamente (diferenças entre R$ 6.000 a R$ 17.040!).

Uma análise mais cuidadosa, porém, mostra que o Cronos não é tão mais barato – ao menos não nas versões equiparadas, mais próximas possível em desempenho e equipamentos (pode até ficar mais caro!). Para começo de conversa, os R$ 53.990 iniciais do Cronos são de uma versão 1.3 pelada que não permite opcionais, a opção  “automática” inicial é na verdade automatizada (a automático de verdade parte de R$ 69.990) e o Cronos topo de linha, para ficar “top” mesmo, pode chegar a até R$ 82.330 (com todos os opcionais e a pintura mais cara, vermelha ou branca). Vamos, então, a uma análise mais detalhada, versão a versão.

FIAT CRONOS 1.3 x VW VIRTUS 1.6 MSI (câmbio manual)

A oferta inicial da Fiat de R$ 53.990, chamada apenas Cronos 1.3, é a famosa “isca de concessionária”: difícil de encontrar e difícil de achar quem se interesse. Não tem central multimídia e não permite opcionais. Para quem quer mais, já com a atraente central multimídia de tela flutuante integrada ao painel, o Cronos Drive 1.3 parte de R$ 55.990, ante os R$ 59.990 iniciais do Volkswagen Virtus 1.6 MSI. Nesse caso, o Fiat é R$ 4.000 mais barato, mas fica devendo ao rival alarme, vidros elétricos traseiros e airbags laterais. O primeiro item é opcional de R$ 650, os segundos aparecem em um pacote de R$ 1.990 (que inclui retrovisores com repetidores e tilt down) e os últimos o Fiat só tem na versão 1.8. Com esses itens, o Cronos 1.3 sobe a R$ 58.630 – só R$ 1.360 a menos que o Volks. Fica devendo os airbags laterais, mas compensa com volante com ajuste de altura, monitor de pressão dos pneus, retrovisores elétricos e central multimídia com volante multifuncional.

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Já o sistema multimídia do Virtus vem em um pacote de R$ 2.950 (Connect Pack), que o leva a R$ 62.940 – e soma, ainda, volante multifunção (ainda sem ajuste!), controle de estabilidade, bloqueio do diferencial, assistente de partida em subidas, sensor de estacionamento traseiro e rodas de liga-leve aro 15. Desses itens, o Cronos Drive pode ter apenas os dois últimos – que acompanham farol de neblina, banco traseiro bipartido e câmera de ré, que o VW 1.6 não tem. Mas sobe a R$ 61.620, e aí não vale a pena, é melhor pensar na versão 1.8 MT.

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Nesse embate, o Cronos é um pouco mais barato, sim, mas vale lembrar  que o Fiat tem motor 4 cilindros 1.3 8V de 101/109 cv e o VW Virtus tem o 1.6 16V MSI, maior e mais potente, com 110/117 cv e 15,8/16,5 kgfm. Por ser mais leve, ainda, o Volks tem ampla vantagem no desempenho, enquanto o Cronos tem discreta vantagem no consumo. Ou seja, o Fiat ganha em preço/pacote, mas perde na mecânica.

FIAT CRONOS PRECISION 1.8 MT x VW VIRTUS 1.6 MSI

Em vez de pagar R$ 61.620 no Cronos Drive 1.3 completo, vale a pena ir para o Precision 1.8, que parte de R$ 62.990. Ele traz a vantagem do motor maior e mais potente (135/139 cv e 18,8/19,3 kgfm), com desempenho e consumo (ajudado pelo start-stop) quase idênticos aos do Virtus 1.6 – tornando a comparação até mais justa. E, ainda, vem com importante sistemas de controle de estabilidade e partida em subidas que o 1.3 não tem.

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Nesse caso, o Cronos começa mais caro que o Virtus, de R$ 59.990, mas é mais completo. Tem, de série, rodas de liga-leve aro 16, ajuste do volante em profundidade, banco bipartido, retrovisores elétricos e multimídia com volante multifuncional, enquanto o Virtus não tem nada disso, e leva vantagem só na vetorização de torque e nos airbags laterais (R$ 2.600 no Cronos).

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Mas, como vimos acima, colocando no Virtus parte desses itens que o Cronos tem de série (multimídia, rodas de liga-leve, volante multifunção e sistemas de segurança) o Virtus MSI sobe a R$ 62.940 (seu valor máximo, fora pintura). Aí o Virtus custa o mesmo que o Cronos (R$ 62.990). Fica devendo, em relação a ele, ajustes do volante, banco bipartido, retrovisores elétricos e rodas maiores, mas segue com a vantagem de ter vetorização de torque e airbags laterais – essas opcionais no Cronos (R$ 2.600), o levando a R$ 65.590. E por esses valores já da para começar a pensar nas versões automáticas. Mas antes há a automatizada do Fiat…

FIAT CRONOS 1.3 GSR
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O Fiat Cronos Drive 1.3 GSR fica na faixa de R$ 60.990 a R$ 68.230 e não briga com o Virtus, que não tem oferta similar (ainda; em breve deve aparecer um 1.6 MSI automático). A transmissão GSR não é automática, mas automatizada de embreagem simples, daquele tipo famoso pela lentidão e trancos nas trocas (questão de costume). Mas o mercado está cheio de opções automáticas nessa faixa: Etios, Versa, HB20S, etc. Já para quem faz questão de uma caixa automática de verdade, entre as duas novidades, restam as versões a seguir.

FIAT CRONOS PRECISION 1.8 AT x VW VIRTUS COMFORTLINE 200 TSI

Quem busca um automático de verdade – e com desempenho de respeito – tem aqui duas boas opções. O VW Virtus 200 TSI troca o motor 1.6 aspirado pelo 1.0 turbinado de 115/128 cv com torque digno de 2.0 (20,4 kgfm), enquanto o Cronos Precision mantém seu 1.8 (até 139 cv e 19,3 kgfm). Ambos são ligados a transmissões automáticas convencionais de seis marchas, fazendo com que tenham desempenho praticamente idêntico – mas, por ser turbinado, o Virtus é cerca de 8% mais econômico, segundo o Inmetro (e mais que isso na prática).

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Nesse caso, o Cronos parte de R$ 69.990 e o Virtus Comfortline, de R$ 73.490. Mas, se colocarmos os airbags laterais, de série no Volks, no Fiat, ele vai a R$ 72.590 – só R$ 900 a menos. Assim, eles começam empatados em preços, mas considere que o Cronos pode sempre ficar R$ 2.600 mais barato abrindo mão das bolsas laterais (que não podem ser tiradas do Virtus, mas garantiram a ele as cinco estrelas no crash-test).

Nessa faixa, porém, só o Cronos oferece monitor de pressão de pneus, borboletas para trocas de marcha no volante, piloto automático e rodas aro 16, enquanto apenas o Virtus oferece alarme volumétrico e vetorização de torque. Mas o Volks, finalmente com retrovisores elétricos e ajustes do volante de série, pode somar tudo isso que o Cronos 1.8 AT traz de fábrica com o pacote Tech 1 (R$ 2.200) – que adiciona, ainda, entrada/partida com chave presencial, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, retrovisor eletrocrômico e sensores de chuva e crepuscular. O Virtus sobe a R$ R$ 75.690, R$ 3.100 a mais que o Fiat, mas, como vimos, passa a oferecer mais.

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Mas aí o Cronos pode ter também, por R$ 3.990, o Kit Tech – que faz seu valor subir a R$ 76.580, R$ 890 a mais que o Volks, mas o faz “empatar” na chave presencial, nos sensores de chuva e crepuscular e no retrovisor eletrocrômico (e ainda somar ar-condicionado digital e retrovisores com rebatimento elétrico e luz de conforto –  esse último o rival nunca tem). Aí, para equiparar novamente o Virtus, basta trocar o kit pelo Tech Edition, que é só R$ 710 mais caro. Além do ar-condicionado automático, esse pacote soma detector de fadiga, monitor  de pressão dos pneus (finalmente!), post-collision brake, porta-luvas refrigerado e câmera traseira. Desses itens, o Cronos tem apenas o monitor de pressão e pode ter opcionalmente a câmera, por R$ 650. Assim, equiparados ao máximo, para quem faz questão de ar digital e segurança, acabamos um Cronos de R$ 77.230 – mais caro que o Virtus Comfortline, que sai no máximo por R$ 76.400.

FIAT CRONOS 1.8 AT “TOP” x VW VIRTUS HIGHLINE 200 TSI

Agora vamos ver o que acontece se você quer bancos de couro e/ou rodas aro 17 e/ou o pacote mais completo que os sedãs oferecem. No Cronos Precision, seja manual, seja automático, há mais flexibilidade de escolha: fora o Kit Tech, que é um pacote, basta continuar acrescentando opcionais (e o bancos de couro podem ser adicionados a qualquer momento, como a câmera de ré e os airbags laterais). Os bancos mais chiques são “amarrados” apenas às rodas aro 17 (Kit Style, que sai por R$ 3.100 no AT e 3.500 no MT). Já o Virtus, para ir além, precisa passar à versão topo de linha Highline 200 TSI.

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Mas se os R$ 79.990 iniciais do Virtus Highline podem parecer muito em relação aos R$ 69.990 do Fiat Cronos Precision AT – essa conta de “dez mil mais barato” tapeou muita gente –, é importante lembrar que esse Cronos compete tanto com o Virtus Comfortline quanto com o Highline. Na comparação anterior, inclusive, o Fiat já chegava a R$ 77.230. E àquela configuração, o Fiat pode somar, ainda, o Kit Style citado, que leva o Cronos a seu valor máximo: R$ 80.330 (só preto; branco ou vermelho custam R$ 500, cores metálicas, R$ 1.700, e perolizadas, R$ 2.000).

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Já o Virtus Highline de R$ 79.990 tem de série boa parte do que somamos ao Cronos de R$ 80.330. Para equiparar o Volks de vez, entretanto, é preciso somar bancos de couro (R$ 800) e rodas aro 17 (R$ 1.200), que levam o Virtus Highline a R$ 81.990 – R$ 1.660 a mais que o Cronos. Nesse caso, o Volks leva vantagem por ter luzes de circulação diurna (DRL), iluminação de curvas e porta-luvas refrigerado, itens que oo riva nunca tem, mas fica devendo em relação ao Fiat monitor de pressão dos pneus, sensores de chuva, faróis e estacionamento (traseiro), retrovisor eletrocrômico e câmera de ré. Tudo isso pode ser somado no sofisticado Kit Tech High (R$ 3.300), que leva o Virtus a R$ 85.290. Sim, ele fica R$ 4.960 mais caro, mas aí também passa a oferecer muito mais. Além da mecânica melhor e dos itens já citados, soma nesse Kit equipamentos exclusivos: divisória no porta-malas, sensor de estacionamento dianteiro, detector de fadiga, post-collision brake, rede no porta-malas, sistema multimídia de 8” mais sofisticado e com navegador por GPS também offline e, ainda, o ultra-moderno painel digital configurável, que faz uma bela diferença no interior. Ah, e ainda dá pra adicionar o banco do passageiro rebatível (R$ 300), chegando ao valor máximo do Virtus: R$ 85.590 (também preto; branco ou vermelho sólidos custam R$ 450, e cores metálicas, R$ 1.450).

MAIS POR MAIS, MENOS POR MENOS

No fim, o Cronos tem a vantagem de maior flexibilidade na escolha dos opcionais (no caso dos 1.8 você pode optar, por quase o mesmo valor, pelos airbags laterais ou por rodas maiores e bancos de couro, por exemplo). E, se você quer pagar o mínimo possível, no caso do 1.3 a Fiat te dá a opção de levar um carro mais pelado – que por isso custa menos – e até uma opção automática (na verdade, automatizada) que não é perfeita, mas até que quebra um galho (e aí se o Virtus não tem uma opção de valor similar, no mercado há muitas).

Na comparações feitas aqui, quando o Cronos tem vantagens de preço, são pequenas – e na verdade de certa forma apenas compensam o conjunto motor/câmbio tecnicamente inferior (principalmente nas disputas entre Cronos 1.3 e Virtus 1.6). E, caso você se importe com isso, também pode compensar a discreta desvantagem no tamanho do Fiat. “Pague menos, leve menos”. Mas, se quiser pagar mais, você leva mais. E aí o Cronos tem valores similares aos dos Virtus quando em versões/pacotes equivalentes. 

De qualquer modo, a disputa é bastante equilibrada, pelo menos olhando apenas para opções mecânicas, preços e equipamentos. Só com uma análise mais completa, com impressões mais detalhadas e experiência  ao volante, dá para decidir a compra. 

O Volks leva vantagem por ser um modelo  com plataforma global, moderna e com segurança comprovada, mas peca em detalhes como o acabamento e a lista de equipamentos que oferece retrovisores elétricos apenas nas versões automáticas e alguns itens só em pacotes. Agrada mais nas versões mais caras.

O Cronos economizou um pouquinho no tamanho e não tem os motores mais modernos ou sofisticados, mas capricha e dá mais opções desde a versão de entrada. Deve vender mais na faixa intermediária, incomodando bastante o líder Prisma. Mas não deixa de ser bastante competitivo, nas versões 1.8, contra o Virtus.