01/08/2010 - 0:00
GRAZIELA FERNANDES
“Não consigo conservar amizades com mulheres. Elas não acompanham meu ritmo”
A presença de mulheres no automobilismo ainda não é algo comum. Ainda assim, Bia Figueiredo e Deborah Rodrigues duas das mais conhecidas pilotos do País, têm muito a agradecer à Graziela Fernandes, uma das primeiras mulheres a correr no Brasil. O auge de sua carreira nas pistas foi de 1968 a 1972 quando integrou a equipe Jolly da Alfa Romeo e disputou diversas provas, entre elas a Mil Milhas Brasileiras. Mas não é apenas na sua performance nas pistas que Graziela se destaca. Ela também é piloto de avião e participou até de corridas de lancha off-shore. “Sou piloto no céu, na terra e no mar”, afirma sem falsa modéstia.
Desde pequena, Graziela não era uma garota comum. Sua fixação por carros a levou a fazer, na adolescência, um curso técnico de engenharia de motores. “Minha paixão sempre foi a Alfa Romeo e a prova Mil Milhas Brasileiras”, diz a piloto, que viu no curso uma forma de se aproximar mais de seu sonho. Seu primeiro contato com o esporte a motor foi em uma prova feminina com seu próprio carro de rua, um Willys Interlagos conversível, em 1964. Por conta do bom desempenho na prova e do conhecimento avançado em mecânica, Graziela conseguiu uma vaga de piloto de teste na Willys, que foi a porta de entrada para as pistas.
Mesmo tendo participado de diversas corridas profissionalmente, para ela, todas foram uma espécie de treino para sua estreia nas Mil Milhas de 1970. A bordo de um Alfa GTA da equipe Jolly, que vinha da Itália preparada pelo departamento de competição da marca, Graziela completou a corrida em um excelente sétimo lugar, já que o grid possuía cerca de 50 carros. Em 1972, com o bloqueio das importações, a equipe fechou as portas e, com isso, Graziela parou de competir para alçar voos mais altos, literalmente. Trocou os cockpits pelas cabines de aviões.
Em 1973, não só tirou a licença para voar, como cursou escolas de pilotagem durante seis anos até conseguir a maior patente da aviação comercial. “Fui a primeira mulher do Brasil a conseguir a carteira de piloto de linha aérea. Durante os 30 anos em que voei, acumulei mais de sete mil horas nos ares”, conta, e acrescenta que chegou a ser examinadora de pilotos e a receber convites de companhias aéreas para ser piloto, todos recusados em prol de seu casamento – que hoje já completou 37 anos – com Carlos Alberto dos Santos, ex-cavaleiro da equipe olímpica brasileira de hipismo.
Em 1982, ela resolveu voltar às Mil Milhas dividindo com ele o volante de um Opala da Stock. Apesar de terem enfrentado problemas mecânicos, completaram a prova e gostaram tanto da experiência que repetiram a dose no ano seguinte. Depois de explorar a velocidade na terra e no ar, Graziela foi convidada, em 1990, a participar do Campeonato Brasileiro de Off-Shore, que são corridas de lanchas. Logo em seu primeiro ano terminou em terceiro lugar. Cinco anos depois, voltou a pilotar uma lancha na represa de Guarapiranga,em São Paulo (SP), após ser chamada às pressas para substituir um piloto italiano que não conseguiria chegar ao local da prova. Com apenas um dia de treino, conseguiu novamente o terceiro lugar.
Hoje, mesmo sem competir em nenhuma categoria, Graziela não perdeu o contato com o automobilismo. Além de estar sempre em eventos, ela é sócia do clube do Alfa Romeo e, vez ou outra, participa de provas de regularidade em Interlagos, junto com o marido. Como se não bastasse, Graziela ainda faz Tiro ao Prato e Mergulho, duas atividades que já pratica há anos. “Tenho dificuldade de conservar amizades com mulheres. Elas não acompanham meu ritmo”, diz. Não é de surpreender!
Abaixo, na Mil Milhas dos anos 80, com o Opala da Stock que pilotou com o marido (abaixo, à esq.)
Ao meio, a bordo do Alfa GTA: sétimo lugar entre 50 carros
Ela participou de campeonatos de Off-Shore e foi a primeira piloto de avião comercial do Brasil