Quando os primeiros Q3 saíram da linha de montagem da Audi na Espanha, em 2011, tinham um alvo claro: o bem-sucedido crossover X1, da BMW. Seguindo a proposta do rival, o Q3, mais atual, não parecia ter uma missão tão difícil. Seria o novo rei do pedaço, fácil! Mas, um mês depois, um novo rival passou a ser fabricado na Inglaterra: o Range Rover Evoque. Se a Audi foi pega de surpresa, não foi por falta de aviso. Em 2007, antes de X1 e Q3 darem o ar da graça, MOTOR SHOW foi a Londres conhecer o Land Rover LRX, um carro-conceito que a marca anunciava como sendo a base para um futuro veículo de série. Como seu design era diferente de tudo o que a marca já havia feito, muitos duvidaram que os ingleses seriam tão ousados. Mas foram. E é isso, em grande parte, que faz o Evoque tão especial.

O fato é que, surpreendida ou não, a Audi começa a vender no Brasil, no mês que vem, seu Q3. A briga entre os três crossovers, que já rola na Europa, será reproduzida aqui. O X1, que inaugurou esse nicho de mercado, reinou sozinho desde então, mas hoje tudo mudou. A versão básica do BMW custa R$ 130 mil, com um motor 2.0 de 150 cv e tração traseira. A topo de linha 28i traz um seis cilindros de 258 cv e tração integral e custa R$ 199.050 (a marca ainda não anunciou mudanças por causa do novo IPI). Por menos, você pode comprar um Evoque. Não este das fotos que vem com o pacote tecnológico e custa R$ 249 mil, mas a versão Prestige convencional, que sai por R$ 196 mil. Exatamente o preço do Q3 Ambition avaliado.

O Q3 tem equipamentos únicos no segmento, como freio regenerativo, monitor de ponto cego, leitor de placas de trânsito e sistema que mantém o carro dentro das faixas de rolamento

 

O GPS do Evoque é o único touchscreen, mas o grafismo dos mapas é inferior ao dos rivais. Controle remoto e telas traseiras são parte do caro pacote tecnológico

 

O X1 tem boa posição de dirigir e a disposição dos equipamentos é racional. O acabamento é pior que o dos rivais, comparando os modelos topo de linha, ele perde

 

Audi e Range Rover aparecem com modernos motores quatro cilindros 2.0 turbo contra um seis cilindros do BMW. Eles são menos potentes, mas isso não é necessariamente ruim. Pelo contrário. É uma tendência. Além de consumirem menos, têm torque igual ou maior que os propulsores em V6, e sua força está disponível quase que a qualquer momento, por conta da sobrealimentação. Não por acaso, o X1, na Europa, já seguiu esse caminho. A exemplo do Série 3, substituiu o motor seis clindros por um eficiente e mais moderno quatro cilindros de dois litros.

Com o mesmo preço do BMW, não fica difícil para o Q3 derrotá-lo. Além de mais atual e com um acabamento mais caprichado, seu bom conjunto mecânico (o já citado 2.0 e uma transmissão de dupla embreagem) garante aceleração quase idêntica, velocidade máxima maior e mais agilidade nas retomadas. Além disso, o Audi tem o controle dinâmico automático do chassi, que permite ao motorista escolher entre os modos econômico, confortável ou esportivo (o chamado Audi Drive Select). Peso do volante, respostas do acelerador, rigidez da suspensão, trocas de marcha, tudo é alterado dependo da opção. Muito versátil.

 

 

E, quando se fala em tecnologia, esse Audi top também leva vantagem sobre o BMW 28i. Claro que, por quase R$ 200 mil, todos oferecem muito luxo, mas o Q3 vai além. Tem sistema que estaciona o carro sozinho, auxílio em subidas e descidas, sistema de som com 465W e 14 alto-falantes, recuperação de energia da frenagem, monitor de ponto cego com alerta de mudança involuntária de faixas (que até interfere no volante em casos extremos) e GPS, que lê placas de limite de velocidade.

Entre os alemães a briga é fácil. O problema é que, tirando os três últimos itens citados, o Range Rover Evoque oferece praticamente todos os itens do Audi e, ainda, tem um “algo a mais”. Tudo bem que seu motor, apesar de mais forte, sofre com as hesitação do câmbio automático nas reduzidas, o que faz com que seus números de desempenho sejam inferiores. Tudo bem que, em alguns momentos, o Evoque seja até esportivo demais, difícil de conduzir com a mesma suavidade do Audi. E tudo bem que o sistema de som seja ligeiramente inferior.

 

O X1 era o alvo a ser batido neste nicho de mercado, Mas a chegada do Evoque estabeleceu um novo padrão de qualidade à categoria

 

 

Mas o Range Rover tem, para começar, um acabamento muito superior, com couro em todos os cantos e esmero nos detalhes, além de tampa do porta-malas com abertura motorizada, e, nessa versão Prestige, rodas aro 19 (as de 20 polegadas das fotos fazem parte do Tech Pack, que ainda inclui câmeras 360 graus ao redor do carro, tela dianteira Dual View, que mostra imagens diferentes para motorista e passageiro, suspensão magnética, sistema de entretenimento para quem viaja atrás e som com 17 alto-falantes e 825W). O teto panorâmico, ausente no modelo das fotos e presente nos rivais, agora será um gratuito.

Acima de tudo, o Evoque não é um simples crossover, um veículo que vai colocá-lo sentado mais alto e tem uma leve capacidade off-road, como o Q3. Ele é, em cada letra de seu código genético, um Land Rover. Derivado do Freelander e equipado com o sistema Terrain Response, encara qualquer desafio. Areia fofa? Gire o seletor e ele passa. Lama? Mais uma giradinha e problema resolvido…

 

O Audi Q3 tem interior sofisticado mas, assim como os rivais, não é exatamente espaçoso. A cabeça dos ocupantes fica bem próxima ao teto e o banco de trás acomoda bem apenas dois

 

 

Moral da história: na faixa de R$ 130 mil, o X1 de entrada com tração dianteira e apenas 150 cv é a única opção. Encara apenas rivais menos sofisticados como o VW Tiguan. Se a ideia é investir em um dos modelos dessas páginas, é melhor tentar chegar aos R$ 150 mil e levar o Q3 Attraction, de entrada, ou o Ambiente (R$ 165 mil), mais equipado.

Se sua verba, porém, chegar perto dos R$ 200 mil, o Evoque vira o jogo e passa a ser irresistivelmente tentador. Se sua única prioridade é a esportividade e a versatilidade, o Audi ainda pode ser uma boa escolha, claro. Mas o surpreendente Evoque fica quase imbatível – e justamente por aquilo que fez o Range Rover deixar de ser um modelo de luxo da linha Land Rover e virar quase uma marca independente. Ele honra seu pedigree pelo luxo absoluto na cabine, de acabamento esmerado, e pela capacidade off-road insuperável. No cotidiano, seu dono pode enfrentar só asfalto, mas sempre é bom saber que, a bordo do Evoque, quase tudo é possível. Sua imaginação é que determina.