01/06/2009 - 0:00
SMART: A PARTIR DE R$ 57.000 (ESTIMADO)
Quem já foi para a Europa conhece a marca smart – assim mesmo, sem inicial maiúscula. O nome do modelo, fortwo (para dois, em tradução literal, e também sem maiúsculas), não vem ao caso. Como atualmente é o único modelo da marca, que faz parte do grupo Daimler-Benz/Mercedes (leia boxe), ficou conhecido apenas como smart. Um carrinho pensado para cidades grandes, congestionadas e com poucos lugares para se estacionar. Vendido no Brasil, até hoje, só por importadoras independentes, como a Motoracing (que nos cedeu a versão cabriolet para uma volta pelas ruas de São Paulo), por cerca de R$ 100 mil. Seu grande atrativo agora, que é importado oficialmente pela Mercedes em volume maior, é o preço: R$ 57 mil na versão cupê e R$ 62 mil na versão conversível (estimativa). A ideia de trazer o carro para o Brasil foi estimulada por Osvaldo Cruz, dono da Motoracing, e seu filho. No Salão de Frankfurt de 2007, eles começaram a negociar a importação de mil unidades do carrinho, uma negociação continuada aqui, com a Mercedes do Brasil. “A marca acabou roubando nossa ideia, inclusive preço e volume”, revela Osvaldo.
Ele foi concebido para circular com facilidade nas grandes cidades
Acima e à esquerda, a cabine tem bom espaço para dois passageiros e cores como este vermelho. Acima, o CD player e o ar-condicionado; abaixo, o simpático painel, com indicador da marcha engatada
No Salão de Genebra, conversamos com Anders- Sundt Jensen, vice-presidente de comunicação de mercado de autos de passeio Mercedes-Benz e análise de mercado da smart. Ele nos disse que o principal foco é mesmo São Paulo, pois combina com “o dinamismo e o agito de uma megametrópole moderna, com dificuldades de trânsito, estacionamento e poluição”, e que o consumidor brasileiro, “mais passional que racional”, deve receber bem o modelo.
O espaço lateral (acima) não é seu forte: prepare-se para bater o cotovelo no passageiro a toda hora. À direita, o controle simples do ar-condicionado e contagiros e relógio, que ficam no centro do painel. Abaixo, o controle de abertura da capota elétrica do cabriolet, próximo ao câmbio. O acabamento é mediano; afinal, não é um Mercedes
Mas Jensen aposta em vendas modestas: neste ano, pretendem comercializar “apenas” mil unidades. A smart terá uma rede própria de concessionárias, com lojas simples, iniciando este ano com duas concessionária em São Paulo, e depois expandindo o negócio para outras capitais. Já a assistência técnica aproveitará a rede da Mercedes, que cuidará da garantia e da manutenção dos carrinhos. Sem dúvida, um carro charmoso e muito curioso – que levanta questões:
O que cabe nele?
Apesar das dimensões minúsculas, essa não é a impressão que se tem dentro do smart. Mesmo com apenas dois lugares, a posição de dirigir é elevada e o espaço é amplo (até para os maiores de 1,80 m), mas a largura faz os cotovelos de motorista e passageiro se baterem a toda hora. Se você não olhar para trás (o carro acaba logo atrás do seu ombro), nem vai notar que está em uma “miniatura de automóvel”.
O espaço para bagagem não decepciona, pelo contrário: parte dos 220 litros, carregados até a altura do banco, e até o teto (a bagagem fica bem presa pelos encostos dos bancos), consegue levar 340 litros – o mesmo que um hatch médio. Claro que há uma limitação no formato das cargas, mas a capacidade surpreende. O sistema de abertura com duas folhas exige que se use as duas mãos para abri-lo, mas torna o acesso à bagagem bastante fácil.
Na versão cabriolet, a capota de lona é bem discreta e tem abertura elétrica
SMART NA PISTA
O smart é um carro totalmente urbano, mas não há como fugir da necessidade de encarar a estrada de vez em quando. Por isso, MOTOR SHOW testou esse pequeno veículo, que, a partir do dia 1º de abril irá dar o ar da graça por aqui, também na pista de testes da fábrica da Mercedes. No geral, o smart agrada: os 84 cv aliados aos 770 kg proporcionam um desempenho regular, mas as passagens de marcha do câmbio automatizado são lentas e, dependendo da situação, podem deixar a desejar durante uma ultrapassagem, quando é preciso uma esticada maior. Outra característica que poderia melhorar é a direção eletro-hidráulica, que se mostrou um pouco dura. Quanto à sua estabilidade, apesar de seu tamanho, o carrinho passa bastante segurança, mesmo acima dos 80 km/h. E pode até abusar nas curvas, porque o ESP se encarrega de te segurar!
RAFAEL A. FREIRE, DE JUIZ DE FORA (MG)
É divertido de dirigir?
Ouvindo as especificações – tração traseira (com bitola e pneus mais largos), motor turbo e câmbio automatizado também traseiros – dá para pensar em um mini Porsche 911. Mas não é bem assim. O motor 1.0 (três cilindros) de 84 cv pode parecer pouco, mas lembre-se que ele pesa 770 kg: o resultado é uma aceleração de zero a 100 km/h em ótimos 10,9 segundos e máxima limitada a 145 km/h – em um carro com altura quase igual à largura, é bom não abusar.
Não fosse o câmbio automatizado (cinco marchas), lento nas trocas (como o GM Easytronic e o Fiat Dualogic), o desempenho seria melhor. Usar o modo manual (padrão ao ligar o carro) é mais divertido, mas o controle de estabilidade (ESP) é bastante intrometido, e prejudica a “esportividade”. A suspensão rígida passa segurança, mas provoca desconforto em ruas esburacadas (o entre-eixos curto não ajuda).
Na Europa, é nomal (e permitido) estacionar o smart como uma moto, perpendicularmente à calçada. Aqui, o código de trânsito é claro: estacionar assim dá multa. Abaixo, o logotipo da marca e da versão top de linha. Mais abaixo, de lateral, ele parece ainda menor
É possível pegar estrada?
Pode sim, afinal a aceleração é boa, a velocidade máxima está dentro dos limites legais e ele é mais seguro que muito carro que circula por aí (leia boxe). Mas prepare-se para sustos ao passar ao lado de caminhões e acostume-se com o motor “gritando” acima dos 100 km/h. Melhor mesmo é usá-lo na cidade e ter outro carro para viagens longas.
Posso estacioná-lo em qualquer lugar?
Na Europa, os smart estacionam como motos, perpendicularmente ao meio-fio, em vagas onde ninguém mais caberia. Mas o Código de Trânsito Brasileiro é claro: só é permitido estacionar paralelamente ao meio-fio. Ou seja, você pode ser multado. Em vez de procurar vagas de 1,56 m (largura do smart), você poderá estacionar em uma de 2,70 m (comprimento).
Ele é “ecologicamente correto”?
Na Europa e nos EUA, o smart é considerado ecologicamente correto: 15,6 km/l na cidade e 24,4 km/l na estrada. Fit, Mille, Picanto e até Corolla conseguem marcas próximas, o que não tira seu mérito principalmente em centros urbanos, onde a preocupação maior é com os poluentes que prejudicam a saúde. Mas, em termos de aquecimento global, um carro a álcool (que emite menos CO2 no ciclo completo de produção ao uso) é mais “verde” que o smart, que roda só com gasolina. Além disso, as versões menos potentes, mais econômicas, não serão vendidas aqui.
Enfim, na cidade ele é, sim, smart (inteligente, em inglês): gasta pouco, ocupa menos espaço, ajuda a reduzir congestionamentos, leva apenas dois passageiros (a maioria dos carros circula nas cidades com apenas o motorista) e cabe em vagas pequenas.
SMART: RELÓGIOS E CARROS
O projeto smart (com letra minúscula) nasceu não em uma fábrica de carros, mas sim de relógios – a suíça Swatch, famosa por seus relógios. No começo dos anos 90, levou a ideia para a GM, que a recusou por considerá-la “não lucrativa”. Nicolas Hayek, CEO da marca, procurou então a VW, que, em dificuldades na época, também não fechou acordo. Finalmente, em 1994, a Daimler-Benz topou o desafio e uma fábrica foi montada em Hambach, na França. Em 1997, no Salão de Frankfurt (Alemanha), o City-coupé (que apenas em 2004 passou a se chamar fortwo) ganhou vida. Mas, pouco depois, a Swatch abandonou a parceria. Mais de dez anos depois, o fortwo (que sofreu duas pequenas reestilizações e algumas melhorias técnicas) é o único modelo da marca, apesar das tentativas de aumentar a linha de produtos, sem sucesso: em 2002, lançou o Crossblade, uma versão sem teto; entre 2003 e 2005, vendeu o Roadster, um esportivo; entre 2004 e 2006, foi a vez de tentar emplacar o Forfour, um modelo para quatro passageiros. Houve, ainda, o projeto do Formore, uma versão crossover 4×4 do Forfour, com base no Mercedes Classe C que seria fabricado aqui em Juiz de Fora, mas foi cancelado na última hora. Do projeto, nasceu o Mercedes GLK.
Afinal, vale a pena?
Na hipótese de ser o único carro da casa, pensando em preço e custo/benefício, não é uma opção tão inteligente. Na mesma faixa de preço, dá para comprar um sedã, uma minivan ou um Fit 1.4. Mas nenhum deles vai te dar a atenção nas ruas e o charme deste smart. É o carro iPod (ou iPhone, se preferir): há outros MP3 players (ou telefones) que oferecem o mesmo, mas nenhum é tão “moderno” que tenha virado acessório de moda. Assim como os idolatrados produtos Apple, boa parte do valor do smart só é enxergado por “vítimas da moda” – não estamos aqui para julgar. Deixaremos o mercado mostrar a aceitação.
“MAS ELE É SEGURO?”
Essa é a primeira pergunta que surge na cabeça de muita gente ao ver o minúsculo fortwo. Os americanos costumam dizer que a primeira preocupação da Mercedes é fazer carros seguros o suficiente para que seus proprietários vivam o bastante para comprar outro Mercedes. E não poderia ser diferente com os smart: nos rígidos testes de colisão europeus da Euro NCAP, ele recebeu quatro-estrelas, o mesmo que um Fiat Idea ou um Subaru Impreza. O segredo está em uma estrutura rígida batizada Tridion (foto no alto) e na arquitetura do carro. Feita de aço, a estrutura rígida (em parte exposta em outra cor no veículo) garante a segurança dos ocupantes, mas não sozinha.
Carros antigos também eram bem rígidos, e todo o impacto era transferido para os ocupantes. Os carros de hoje são feitos para amassarem – nas chamadas zonas de deformação -, o que amortece o impacto nos passageiros. Como o Fortwo é praticamente só a estrutura Tridion, não há zona de deformação e os seis airbags são extremamente necessários para garantia a segurança. Além disso, a arquitetura do carro também ajuda: a posição de dirigir é elevada e todo o conjunto de motor e câmbio, na traseira do veículo (note no raio x), é projetado para, em caso de colisão, se deslocar para baixo do habitáculo, não atingindo os passageiros. Enfim, não há o que temer – pode dirigir tranquilo.