Em 2024, o Brasil comercializou 2.634.514 veículos novos, o que representou uma alta de 14,1% ante o ano anterior. Mas em 2025 deverá ser um ano menos otimista.

Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), prevê, como o próprio diz, “um mar revolto” para o mercado automotivo brasileiro neste ano.

O que poderá impactar os fabricantes? Leite elencou os principais desafios para as montadoras, em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira, 10.

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Marcio de Lima Leite, presidente da Anfavea
Marcio de Lima Leite, presidente da Anfavea – Crédito: Divulgação/Anfavea

Tarifas dos EUA

O primeiro obstáculo poderá ser as taxas empregadas pelos Estados Unidos a outros países.

O presidente estadunidense Donald Trump anunciou recentemente uma taxa de importação de 10% para a China. Depois, o republicano afirmou que para México e Canadá as tarifas seriam de 25%, mas suspendeu.

“Quando se tem uma imposição de tarifas, podemos imaginar um redirecionamento de exportações. No caso da China, ela exporta bastante para os Estados Unidos. E 80% das exportações do México são direcionadas para os Estados Unidos. Isso pode gerar uma capacidade ociosa nesses países ou um excesso.”

Taxa de juros

Outro fator que poderá impactar o mercado nacional é a taxa básica de juros brasileira, a Selic, elevada a mais de 14% – atualmente, ela está em 13,25%.

Vale lembrar que ano passado, entre abril e outubro, ela ficou em 10,50% e auxiliou as vendas a prazo de veículos, segundo associações do setor.

“É mais um risco e uma realidade que se impõe ao setor automotivo. Historicamente as nossas vendas ocorrem com 70% de vendas financiadas. Esse ano temos um grande desafio, fazer o mercado crescer e sabendo com que a taxa de juros e o custo de financiamento será impactado.”

De acordo com o Banco Central, a taxa média de juros cobrada em dezembro de 2025 para o financiamento de modelos novos por pessoas físicas aumentou 0,9 ponto porcentual entre novembro e dezembro, para 27,5% ao ano.

Argentina

O presidente da associação cita que uma possível saída da Argentina poderia impactar as exportações e as fabricantes brasileiras, visto que 68% dos veículos foram para o país vizinho em janeiro deste ano.

Javier Milei, em entrevista à Bloomberg, afirmou que caso consiga um tratado com os Estados Unidos, poderia tirar a Argentina do Mercosul.

Câmbio

Outro ponto delicado é o câmbio. Leite diz que todas as montadoras foram afetadas com a alta do dólar recentemente. O moeda chegou a bater R$ 6,26 em dezembro de 2024 – agora na casa dos R$ 5,80.

“Cada montadora tem um impacto diferente. Mas sem dúvida, as empresas tiveram um aumento sim de custos de produção nesses últimos dois meses. Se isso será repassado, cada fabricante, cada marca tem a sua estratégia de mercado.”

Previsões para 2025

Mesmo com o cenário, a Anfavea prevê um crescimento de 6,3% em emplacamento, para 2,63 milhões de unidades. Ela também prevê alta para produção de 7,8% (2,55 milhões) e para exportações de 7,4% (399 mil).