Deciframos seus segredos, como este crossover médio.

Sergio Marchionne era presidente mundial da Fiat, foi promovido e agora tem um problema. A marca italiana, comandada por ele desde 2004, pagou US$ 4,31 bilhões para assumir de vez o controle do grupo norte-americano Chrysler. Assim, além das marcas que já faziam parte da Fiat Automobiles – Fiat, Ferrari, Maserati, Alfa Romeo, Abarth e Lancia –, agora se unem sob sua tutela também Chrysler, Dodge, Jeep, SRT e RAM. Para comandar nada menos que 11 marcas, foi criada uma nova empresa a novissima FCA (Fiat Chrysler Automobiles).E Marchionne é o seu poderoso chefão.

Como uma aquisição tão grande pode ser um problema? Bem, os valores envolvidos são altos e as metas, ambicosas saltar de 4,4 milhões de carros vendidos e € 900 milhões de lucro em 2013 para 7 milhões de carros s e € 5 bilhões s de lucro em 2018 ; fazer as vendas mundiais da Alfa saltarem de 74.000 para 400.000 unidades e, as da Jeep de 732.000 para 1.900.000 carros no mesmo período. São desa os gigantescos e alguns duvidam que se concretizarão. São muitos produtos e possibilidades, além de um jogo de interesses que pode mudar os planos.

Quando a aquisição da Chrysler começou, ainda em 2009 um planejamento similar foi apresentado. Algumas metas foram cumpridas, outras não. A produção do Dodge Dart no México e a importação de uma versão Fiat para o Brasil por exemplo, que revelamos com exclusividade em nossa edição de dezembro de 2011, eram certíssimas – mas foram canceladas porque o governo norte-americano depois exigiu que o carro fosse feito lá. Como se vê, não será fácil para Marchionne lidar com  tantos interesses e comandar o desenvolvimento de produtos dessa nova Fiat, a FCA para evitar que vire um elefante branco. Ele tem cartas valiosas nas mãos, mas há diversos jogadores de peso na mesa. Vamos conferir quais são as principais cartas – focando, claro, não naquelas que ele deixou abertas, mas nas que está escondendo.

Fiat Novas Fronteiras

Nesse complexo jogo, um dos mais importantes participantes se chama Cledorvino Belini, presidente da Fiat Chrysler da América Latina e responsável pela Fiat do Brasil – maior mercado da marca no mundo e principal destino atual de investimentos do grupo. Esses aportes têm ido não só para a nova fábrica de Goiana, em Pernambuco, que será inaugurada no início do ano que vem, mas também para a de Betim (MG), a que mais produz modelos Fiat em todo o mundo.

Dentro da estratégia global da FCA, a marca Fiat ganhou papel secundário – mas não no Brasil e na Itália, seus maiores mercados. Aqui, o plano é se manter na liderança de vendas, posto ocupado há 12 anos. Para isso, além dos carros populares, que a marca sempre fez muito bem, é preciso investir em novas fronteiras para enfrentar a concorrência. É em busca dessas fronteiras que aparece, além da picape média que revelamos na edição de abril (disponível no site www.motorshow.com.br), o modelo que você vê na ilustração ao lado. Ainda sem nome, ele está sendo chamado de C Compact CUV. Trata-se de um crossover médio – segundo os padrões brasileiros – com visual de SUV. Os planos o ciais não dizem onde ele será feito, mas nossos informantes dizem que a Turquia é candidata à produção para o mercado italiano em 2017.

Mas e o Brasil? Bem, é essa jogada que Belini e Marchionne ainda precisam acertar. A rede de concessionárias Fiat, com mais de 600 pontos no Brasil, não está feliz em saber que a fábrica pernambucana, por enquanto, vai produzir dois Jeep e apenas um Fiat – a picape média. Satisfeitos com os resultados do Freemont – que deve sair de linha –, eles querem um novo SUV, e de maior volume. O aguardado 500X europeu não será feito aqui para não atrapalhar a chegada do Jeep Renegade, e a marca vai apostar em um SUV menor, que será fabricado em Betim a partir de 2016. Mas já existe uma discussão no sentido de entregar mais para os vendedores nacionais – e esse crossover seria perfeito para a produção em Goiana. Sabe por quê?

Como o C Compact CUV usará a mesma base da picape Fiat e do SUV médio da Jeep que serão feitos em Goiana, a infraestrutura de fornecedores estará toda lá. E embora essa plataforma seja similar à C-Wide (também conhecida como CUSW), feita para o Dodge Dart e o Jeep Cherokee a partir da usada no Alfa Giulietta, nossas fontes garantem que ela foi desenvolvida no Brasil. Assim, know-how para fazer esse novo SUV aqui não falta. Ainda corroborando a tese, como a Jeep vai produzir inicialmente 160.000 carros em Pernambuco e a capacidade produtiva no primeiro ano será de 200.000 (com possibilidade de ser expandida futuramente para até 300.000), essa diferença caria “livre” para a Fiat fazer a picape e esse crossover médio já em 2017. Com carroceria de cerca de 4,5 m de comprimento, aqui ele teria motor1.8 E.torQ, tração dianteira e preço na faixa de R$ 75.000. Na medida para brigar com as versões de topo de Ford EcoSport, Chevrolet Tracker e Renault Duster e, ainda, roubar clientes que pagam mais em SUVs do mesmo porte, como Honda CR-V e Hyundai ix35.

Outra surpresa nos planos da Fiat é a nova geração do Bravo, que atua em um segmento em que a marca tinha desistido de investir.

É que agora o hatch médio não virá sozinho, mas como parte de uma família: chega em 2016 junto com uma perua, enquanto já no ano que vem a marca lança um sedã médio com a mesma plataforma – não por acaso, exatamente a do crossover que abre essa reportagem (parte dessa nova família). Esses carros vêm para o Brasil? A princípio não, mas são cartas também em jogo.

No mais, da linha de produção de Betim sai ainda este ano uma discreta reestilização do Uno; em 2015, um subcompacto com motor 3 cilindros para enfrentar Volkswagen Up, Ford Ka e os novos chineses; em 2016, o novo Grand Siena; em 2017, o novo Palio; e, nalmente, em 2018, o novo Siena. Ainda incerta é a nova geração do Punto, que aparece nos planos em 2016: podemos não ter um novo Punto, e sim um hatch inédito inspirado no 500 – que apareceu nos planos da marca, por enquanto só para a Europa, como hatch compacto. Trata-se do inédito 500 cinco portas, que já havíamos mostrado, com ilustrações exclusivas, na edição 373.

Jeep A mais valiosa aquisição

De todo o grupo Fiat Chrysler Automobiles, a marca que tem a imagem mais forte em nível global e maior potencial de crescimento é a Jeep. É a aquisição mais valiosa. A grande novidade para o nosso mercado já havia sido con rmada no Salão de Genebra, em março – o pequeno Renegade que ainda este  ano será lançado na Europa. Já sua versão nacional chega em abril do ano que vem com opções de motor 1.6 e 1.8 E.torQ flex nas versões de entrada com tração 4×2 ou 2.4 MultiAir e tração 4×4 nas topo de linha. Os preços devem partir de R$ 70.000.

Depois, em 2016, a marca lança aqui (tambem com produção nacional) um O Compass, à esquerda, já tinha aposentadoria marcada, mas resistiu. Em 2016, porém, dá lugar a um novo SUV nacional (ilustrado abaixo) SUV médio que usa a mesma base da picape da Fiat.

Trata-se do modelo que mostramos em nossa edição de abril, mas chamamos de Grand Wagoneer. Esse SUV será mais ou menos do mesmo tamanho do crossover SUV médio da Fiat e terá motor 1.8 E.torQ ou 2.4 MultiAir. Em porte e preço, cará entre o Renegade e o Cherokee – que chega, importado dos EUA, ainda este ano. Na faixa de R$ 110.000/R$ 120.000, portanto, esse SUV médio substituirá, em uma só tacada, o Compass (que é vendido aqui hoje) e o Patriot (comercializado apenas nos EUA).

Em 2017, chegam os novos Wrangler, ilustrado no alto desta página, e Grand Cherokee. O primeiro, como de costume, não muda muito sua fórmula, preservando o visual clássico e, claro, a tradicional capacidade off-road. Já o segundo terá a responsabilidade de manter os bons resultados de vendas da geração atual. Em 2018, sobre sua base – e também fabricado nos EUA –, chega o “verdadeiro” SUV de sete lugares da marca, esse sim o Grand Wagoneer. Ele ocupará o lugar do Commander, fracassado modelo lançado em 2010 (e que chegou a ser vendido aqui).

Com esse plano, a Jeep pretende vender 200 mil carros por ano na América Latina, contra os 20 mil atuais. Como acabamos de ver, para isso terá SUVs destinados a todos os gostos e bolsos – e de todos os tamanhos: Renegade, com 4,23 m; SUV médio, com cerca de 4,50 m; Cherokee, com 4,62 m; Grand Cherokee, com 4,82 m; e, nalmente, Grand Wagoneer, com cerca de 5 m de comprimento.

Alfa Romeo De volta ao Brasil

Há anos a Alfa Romeo ensaia voltar ao nosso mercado. Mas os que esperam ver seus carros no Salão do Automóvel deste ano carão decepcionados: nossas fontes garantem que a marca não estará lá. Deve chegar só em 2015, mas nem isso é 100% certo. De qualquer modo, a Alfa está em transformação: dos três modelos atuais, um tem aposentadoria marcada (Mito), outro sofrerá uma modi cação (Giulietta) e só um deve sobreviver a longo prazo (4C).

Isso porque a Alfa está assumindo de vez o importante posto de marca “premium” do grupo, destinada nalmente a entrar no mercado norte-americano e atacar diretamente as alemães Audi, BMW e Mercedes-Benz. Uma imagem que obtivemos deixa isso claro: uma carroceria de Série 3 agrada na fábrica da Alfa em Cassino (Itália). Compreensível, já que o BMW é hoje referência do segmento. Assim, analisando os rivais, a Alfa está desenvolvendo o Giulia Sedan, que chega ainda em 2015. Como o BMW (e o Mercedes-Benz Classe C), terá tração traseira e motores 4 e 6 cilindros a gasolina (entre 150 e 400 cv).

Os planos da Alfa são bastante ambiciosos: entrar com tudo no mercado norte-americano e atingir a marca de 400.000 carros/ano nas vendas mundiais (em 2013 foram apenas 74.000). Para isso, aposta suas chas nessa nova plataforma de tração traseira, que busca trazer de volta o grande prazer de guiar associado à marca no passado e dará origem, ainda, a um cupê de quatro portas, uma perua e um SUV médio (em 2017), além de um SUV grande e um spider desenvolvido junto com o novo Mazda MX-5 e o Fiat 124 Spider (em 2018).

Voltando ao mercado brasileiro, além do Giulia importado, que devemos ver no fim do ano que vem na faixa dos R$ 120.000, está nos planos da empresa a geração atual do Giulietta – elogiado rival de Focus, Golf e cia., cuja nova geração chega em 2017. Estamos também na la para importar o apaixonante miniesportivo de baixo peso, motor central de 240 cv e carroceria de carbono 4C (avaliado na MOTOR SHOW 368, disponível em nosso site), além de sua versão spider (que chega este ano) e do compacto Mito – que estava nos planos, mas agora tem morte programada por não combinar com a estratégia “premium”

Lancia Morte Anunciada

Com exceção do mundo dos ralis, a Lancia nunca foi muito conhecida fora da Itália. Nos planos da FCA, não teve nenhum produto divulgado e mereceu apenas uma nota de rodapé anunciando um futuro “destinado à Itália”. A verdade é que, com tantas marcas para gerenciar, a FCA deve sacri car lentamente a Lancia, que deve ser extinta dentro de alguns anos.