Jaroslav Sussland, ex-diretor da Audi Senna, foi um dos responsáveis pela parceria da Lamborghini com a Via Itália, onde assumiu o cargo de diretor de relações internacionais

Justamente quando completa 13 anos de existência, a Via Itália, importadora oficial da Ferrari e da Maserati no Brasil, faz mais uma aposta corajosa no segmento de luxo. No mês de agosto, será inaugurada pelo grupo a primeira revenda Lamborghini na América do Sul. Localizada na avenida Europa (rua que concentra grande parte das lojas de carros importados da cidade), a Lamborghini São Paulo venderá toda a linha de modelos da marca do touro, a pronta-entrega e sob encomenda. Como se trata de marcas concorrentes, por exigência da Lamborghini, suas operações serão totalmente independentes das da Ferrari, com oficina própria, estoque de peças e funcionários treinados pela fábrica na Itália.

O grande responsável pela nomeação do novo dealer no Brasil foi Jaroslav Sussland, ex-diretor da extinta Audi Senna. O executivo, um dos principais responsáveis pela implementação bem-sucedida da Audi no Brasil, esteve em contato com a diretoria da Lamborghini (controlada pela Audi) nos dois últimos anos e intermediou toda a negociação com a Via Itália. Nomeado diretor de relações internacionais do grupo, ele conta, em entrevista exclusiva, como será a representação da marca no mercado brasileiro.

Motor Show: Apesar de um ligeiro aumento em março, as vendas de carros importados caíram 6,9% no primeiro trimestre deste ano. Por que trazer uma nova marca de luxo para o Brasil justamente em um momento tão conturbado? Jaroslav Sussland: Não temos medo da crise. Não temos dúvida de que o Brasil vai ser um dos primeiros países a se recuperar. Prova disso é que aqui as consequências têm sido bem menores. Sabíamos que, em alguma coisa, seríamos afetados, mas a crise está muito menor aqui. De qualquer forma, nos tornamos representantes da Lamborghini não por um ano, mas por uma vida… No segundo semestre, devemos estar perto de uma normalização na economia.

MS: Qual o preço médio dos modelos que vocês terão na loja?

JS: É cedo para falar de preço, porque ainda não fechamos essa questão. Encomendei as cinco primeiras unidades que estão sendo adaptadas pela Lamborghini para rodar com a nossa gasolina com 25% de álcool. Nesse primeiro lote, incluí somente Gallardo e Gallardo Spider, para sentir a reação do público. Para esses modelos, podemos falar em um valor inicial na ordem de R$ 1,5 milhão.

MS: Quem é hoje esse consumidor brasileiro disposto a investir uma pequena fortuna em um carro?

JS: O cliente do nosso produto é o milionário, seja por herança, seja porque foi bem-sucedido nos negócios. Nos últimos anos, houve uma melhor distribuição de renda, há mais pessoas podendo comprar e mais empresários enriquecendo. O Xandy Negrão, por exemplo, acabou de vender a Medley (indústria de medicamentos vendida em abril ao grupo francês SanofiAventis) por US$ 664 milhões. Ele seria um potencial comprador de Lamborghini. Esse consumidor não deixou de comprar. No final do ano passado, ele ficou temeroso, em cima do muro, esperando para ver o que aconteceria com a economia. Mas agora as coisas já estão voltando ao normal.

MS: E vocês já têm alguma encomenda?

JS: Temos dois carros “apalavrados”, digamos assim.

MS: Na Europa e nos EUA, os compradores de Lamborghini podem escolher todo o acabamento do carro e montar uma unidade exclusiva, já que a fabricação ainda é bastante artesanal. Aqui também será assim?

JS: É evidente que ofereceremos essa opção para os clientes, mas, pela experiência que a Via Itália tem com a Ferrari e com a Maserati, o consumidor brasileiro não funciona assim. Ele é apaixonado, compra por impulso. Quer ver o carro no showroom e escolher.

MS: Desde que começou a se cogitar a vinda da Lamborghini, muito se especulou a respeito de quem seria o importador, mas não se falava na Via Itália. Como foi a negociação?

JS: A Lamborghini nunca teve um distribuidor na América do Sul porque nunca produziu em tanta quantidade. A partir do momento em que o grupo VW assumiu a totalidade das operações da empresa é que eles começaram a cuidar mais da qualidade dos componentes e foram aumentando a produção. Eu acompanhei isso de perto e me mantive em contato com a Lamborghini desde que saí da Audi, há dois anos. Mas os executivos me diziam para ter calma, que a hora de vir ao Brasil iria chegar. No ano passado, começaram a fazer contatos com os possíveis interessados, havia quatro ou cinco empresas.

MS: Mas o que determinou a escolha da Via Itália?

JS: A expertise, sem dúvida. O trabalho da Via Itália com as marcas Ferrari e Maserati. Em assistência e também em vendas. O grupo comercializa 35 unidades de Ferrari e 35 de Maserati ao ano. Se você olhar os números, eles oscilaram pouquíssimo nos últimos 12 anos. É um resultado muito bom. Eles conhecem esse consumidor.

MS: Qual a expectativa de vendas anual da Lamborghini? JS: Estamos estimando 12 unidades de agosto (quando a concessionária será inaugurada) até dezembro. Para 2010, podemos falar em 20 unidades e, no próximo ano, devemos crescer mais um pouco.

MS: Vão distribuir a marca em outros países?

JS: Em princípio não. Se alguém quiser comprar, nós vendemos. Mas, oficialmente, nosso acordo é só para o Brasil. Não entramos em negociação para outros mercados da América do Sul, nem sabemos se eles pretendem nomear um grupo. Estamos focados no Brasil. A concessionária está em fase de acabamento e a oficina está quase pronta.

MS: A assistência técnica da Ferrari não será aproveitada?

JS: Não, as operações da Lamborghini serão totalmente independentes. A equipe de profissionais é outra, inclusive os executivos. A concessionária é separada e a oficina e o estoque de peças também. Apenas a funilaria e a pintura poderão ser compartilhadas.

MS: Muito comprador de Ferrari opta por financiar a compra do carro a juros baixos e manter seu dinheiro em aplicações mais rentáveis. Isso vai se repetir na Lamborghini?

JS: De fato, isso acontece. E com os juros agora mais baixos pode haver uma procura maior pelo financiamento. Mas o que estamos imaginando é que teremos clientes dando carros de alto valor na troca e pagando a diferença em duas ou três vezes.