Será que para ter sucesso hoje com um SUV é necessário que se aposte mais em espaço interno e versatilidade do que no visual off-road? Parece que sim. Muitos fabricantes estão seguindo esse conceito e, agora, a Toyota parece tê-lo incorporado. No novo RAV4, mudou a plataforma, o desenho e até um pouco o gênero. Ele está muito mais para uma peruona ou um crossover do que para o utilitário esportivo das gerações anteriores. A transformação, na verdade, começou já nesse modelo atual, quando, na versão europeia, a Toyota aposentou o estepe na tampa traseira para facilitar o uso familiar. Agora, o processo de mutação foi acelerado. O carro ficou 20 cm mais longo, 2,5 cm mais baixo e com um entre-eixos 10 cm maior. Em suma, quase virou um carro de outra categoria.

O design é forte, com a grade do radiador formando uma linha única com o conjunto ótico dianteiro. Na traseira, o amplo porta-malas, além do estepe, perdeu também a abertura lateral e ganhou um sistema de abertura e fechamento elétrico. Mantendo a ideia de ampliação, o interior está mais cômodo. Para se ter uma ideia, o espaço sobre a cabeça dos ocupantes da frente aumentou em mais de 10 cm. A parte superior do painel tem linhas horizontais que ajudam a criar uma sensação maior de amplitude.

O interior está mais bem-feito: o couro sintético se mistura a materiais menos nobres para dar-lhe so sticação. Funciona bem. A posição de dirigir mudou com relação à geração anterior. Está mais baixa, mais correta. A visibilidade melhorou, assim como a ergonomia. O que menos convence quando se está a bordo é o quadro de instrumentos, simples demais. Há diversos porta-objetos, as entradas USB e auxiliar estão em uma posição cômoda e de fácil acesso (na parte baixa do console) e logo abaixo se encontra um local de apoio para os dispositivos de áudio, seja um iPod, seja um smartphone. No centro do painel, um sistema multimídia com navegador GPS oferece uma utilização bastante intuitiva e simples, como se espera de um Toyota. A conexão bluetooth permite fazer chamadas telefônicas com segurança.

A promessa de conforto se mantém na parte de trás. O entre-eixos alongado garante espaço para as pernas sem que se sinta falta de um assento traseiro deslizante, com ajuste longitudinal. O encosto é reclinável e dois passageiros não encontram grandes problemas para se acomodar a bordo. Já o terceiro ocupante do banco traseiro, mesmo com o túnel de transmissão baixo, fica com as pernas menos confortáveis. Ainda assim, lateralmente, vai bem. O porta-malas é outro destaque do carro. Tem assoalho baixo e por isso é bastante fácil de ser carregado. São 465 litros, com mais 131 litros em um compartimento sobre o assoalho. Aqui, onde o estepe manterá as medidas dos pneus normais, é possível que esse espaço extra seja sacrificado (na Europa, o carro tem apenas um kit de reparo para pneus furados). Nesse caso, sua capacidade de carga cará comprometida com relação ao seu rival direto, o Honda CR-V, que acomoda 524 litros (leia mais sobre ele ao final desta reportagem).

A tração integral evoluiu. Interage com o ESP e com a assistência elétrica da direção no monitoramento contínuo do torque. Em condições normais de utilização, o carro usa a tração dianteira, mas, em caso de baixa aderência, o torque vai sendo transferido para trás – até um limite de 50%. Dispõe ainda de um botão Lock para o uso off-road. Ele bloqueia a tração com 50% para cada eixo até os 40 km/h. A altura do solo, no entanto, é bem discreta: são apenas 19 cm. Isso mostra que a essência desse novo RAV4 é mais urbana do que aventureira. Uma função chamada Sport, ligada à transmissão, ativa uma transferência extra de potência ao eixo traseiro sempre que se gira o volante nos casos de emergência. A ideia é neutralizar a tendência à saída de traseira. Na prática, ajuda, mas não soluciona o problema.

Até o fechamento desta edição, a marca não havia anunciado o pacote brasileiro. Mas é certo que o modelo topo de linha terá motor 2.5 de 179 cv e câmbio automático de seis marchas. Essa configuração terá apenas a opção 4×4, com preços partindo na casa de R$ 140 mil. A grande novidade, porém, será uma inédita versão de entrada. Menos equipada e com motor 2.0 de 145 cv, terá tração 4×2 e 4×4 e câmbio CVT com sete marchas simuladas. Seu preço inicial deverá ser de R$ 99 mil. Comparado ao CR-V, seu principal problema será a ausência do motor flex. Ainda assim, deve se dar bem, já que a Honda tem limitação de importação do México e a Toyota tem uma cota de 9.600 carros para trazer do Japão. A demanda que a Honda não consegue atender será o trunfo do RAV4.