Não é por falta de opções que o brasileiro ficará sem um hatch de qualidade. Com a chegada do novo Volkswagen Golf, três dos quatro hatches médios superiores que lideram essa subcategoria têm projetos atualizados. Além do Golf VII, são recentes o Chevrolet Cruze e o Peugeot 308. O Ford Focus está mudando agora, mas a primeira carroceria a chegar será a sedã. Por isso, para este comparativo, reunimos três exemplares de bom nível: o Volkswagen Golf Highline 1.4 TSI, o Chevrolet Cruze Sport6 LTZ 1.8 e o Peugeot 308 Feline 1.6 THP – todos com câmbio automático. De janeiro a agosto de 2013, mesmo concorrendo com a geração IV, o Golf registrou 7.133 unidades vendidas, contra 14.132 do Cruze Hatch e 7.504 do 308. Imagina agora, com a chegada da sétima geração, o que vai vender esse Golf…

Por isso, começamos este comparativo pelo preço. Lembrando que estamos falando só das versões automáticas, o 308 mais caro e o Golf mais barato empatam em preço: R$ 74.990. O Cruze completo sai por R$ 78.990. É possível encontrar versões automáticas mais baratas do 308 e do Cruze? Não, só do Peugeot 308, que tem a versão Allure 2.0 AT por R$ 64.990, mas aí já estamos falando até mesmo de outro motor. Quanto ao Golf Highline automático, só tem configurações mais caras: Elegance por R$ 79.990, Exclusive por R$ 89.990 e Premium por R$ 99.990. Isso sem contar os opcionais que o Golf automático oferece nos pacotes Standard, Elegance, Exclusive e Premium, o que torna a sua compra um verdadeiro quebra-cabeça, apesar da promessa da Volkswagen de que iria facilitar a escolha do consumidor. Esses três carros também estão disponíveis em versões manuais, mas vamos nos concentrar só nas versões com câmbio automático.

Como se vê, eles brigam acirradamente para conquistar o seu rico dinheirinho. Depois do preço, o principal item de escolha de um carro no Brasil é o design. E aqui também a briga é boa, pois os três são bonitos. A simplicidade do Peugeot 308, especialmente na parte traseira, com duas lanternas inteiramente vermelhas, talvez o coloque num patamar abaixo em termos de design. Vale lembrar que um renovado 308 está chegando na Europa e pode desembarcar por aqui no final de 2014. A decisão do melhor design, portanto, fica entre o novo Golf e o Cruze Sport6. Os dois carros são lindos, estão entre os mais belos do Brasil. Vai do gosto pessoal escolher as linhas limpas e impecáveis do Golf ou os vincos sedutores do Cruze. Vistos de lado, o Golf não esconde seu DNA de hatchback, enquanto o Cruze tem a linha do teto arqueada até as colunas C e lembra muito um cupê.

O conhecido motor 1.6 turbo do Peugeot 308 – um dos mais bem-sucedidos projetos de downsizing de motores – é o mais potente dos três: 165 cv. São importantes 25 cv a mais do que o 1.4 turbo do Golf (140 cv) e 21cvamaisdoqueo1.8flexdoCruze(144 cv). Esses números sozinhos não significam muita coisa se não levarmos em conta o peso desses automóveis. Com seus 1.392 quilos, a relação peso/potência do Peugeot 308 é de 8,4 kg/cv. O VW Golf pesa 1.238 quilos e tem uma relação peso/potência de 8,8 kg/cv, enquanto a do Chevrolet Cruze, com seus 1.410 quilos, é de 9,8 kg/cv. E é exatamente isso que a gente sente ou vê quando está com esses carros: o Cruze passa a impressão de ser pesado, enquanto o 308 conquista pela leveza. Dos três motores, o do Cruze é o único flex e aspirado. Nesse ponto, os motores turbo mais compactos do Golf e do 308 estão um passo adiante. O Cruze se iguala ao 308 no câmbio automático de seis marchas – os dois são muito bons, mas ainda assim inferiores ao fantástico câmbio automatizado DSG de sete velocidades com dupla embreagem do novo Golf, que é absolutamente preciso.

Tudo isso resulta numa briga só de dois quando falamos da performance dos três hatches avaliados. Enquanto o Peugeot e o Volkswagen aceleram de 0-100 km/h em 8,3 e 8,4 segundos, respectivamente, o Chevrolet precisa de longos 11,4 segundos para cumprir essa prova com etanol e de 11,7 segundos com gasolina. Bem, a GM está coerente em não oferecer trocas sequenciais por meio de borboletas no volante do Cruze, mas esse é um item que deveria estar no Peugeot 308… e não está. Ponto para o novo Golf, que, para além disso, ainda oferece quatro modos diferentes de condução: normal, econômica, esportiva e personalizada. O carro “grava” o estilo do motorista e adota relações de marcha mais adequadas ao condutor. No modo eco, quando o Golf está em boa velocidade numa descida e o motorista tira o pé do acelerador, o carro deixa o câmbio em ponto morto para economizar o máximo possível de combustível. Os câmbios do Cruze e do 308 só oferecem duas opções de condução: normal e esportiva. Aliás, durante a avaliação, gostei mais do desempenho do 308 no modo normal, mesmo quando dirigia de forma esportiva.

Quanto ao consumo, nenhum deles participa do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular. Por isso, para não fugir do padrão da revista, preferimos não considerar os números nesse item. Mas vale mencionar que, nas “medições” usando o computador de bordo dos três carros, o Golf registrou marcas empolgantes quando usado no modo econômico, com uma média de 18 km/l numa viagem de 200 quilômetros na Rodovia dos Bandeirantes. O 308 também foi bem na estrada, mas nem chegou à casa dos 14 km/l.

Pelo preço que custam, os três hatches são muito bem equipados. Afinal, são superiores à média da categoria. Alguns equipamentos são comuns aos três: airbags dianteiros, laterais e de cortina, navegador por GPS, freios com ABS e auxílios eletrônicos de frenagem, controle de estabilidade e de tração, ar-condicionado digital, direção elétrica, sensores de estacionamento, rodas de liga leve de 17 polegadas (opcionais no Golf), sensores de estacionamento traseiros e sistema de áudio com CD/MP3, entradas auxiliares e tela colorida no painel. O 308 THP e o Cruze LTZ automático não têm opcionais.

Os volantes do Golf e do Cruze são multifuncionais de série. O 308 oferece comandos do sistema de som na coluna de direção, o que não é tão prático. Quanto ao sistema start/stop, só está disponível no Golf. O catálogo da GM traz esse item na lista de equipamentos do Cruze, mas na verdade trata-se apenas de um botão para dar partida ou desligar o motor sem a chave (no Golf, o motor desliga e liga sozinho a cada parada num semáforo, por exemplo).

É possível escolher quatro tipos de configuração na compra de um Golf 1.4. O perfil de condução de quatro modos, os mapas de navegação e as rodas de 17 polegadas estão disponíveis a partir do pacote Elegance. Os faróis bixenônio com LEDs vêm a partir da configuração Exclusive. O sistema de proteção proativa dos passageiros, o banco do motorista com ajustes elétricos e o detector de fadiga são itens do pacote Premium. O destaque do 308 é o teto panorâmico de vidro. O Cruze se impõe pelo sistema MyLink com tela LCD de sete polegadas sensível ao toque. O Golf conquista pela simplicidade da utilização do sistema multimídia.

O conforto a bordo também é uma característica comum aos três. São carros que não cansam o motorista na estrada. Eles também são confortáveis no banco de trás. O Cruze Sport6 tem a suspensão um pouco mais mole, valorizando um rodar suave, mas penalizando ligeiramente a dirigibilidade, pois apresenta alguma tendência de rolagem da carroceria nas curvas. Ao volante, o Cruze também exige um pouco mais de atenção por parte do motorista, devido aos comandos disponíveis – embora seja, entre os carros da linha Chevrolet, o que tem o melhor quadro de instrumentos. O 308 THP, ao contrário, não tem comandos no volante e sua tela é escamoteável, tornando-se um carro muito simples de dirigir. O grafismo do quadro de instrumentos talvez seja delicado demais para um carro com pegada esportiva. Nesse item o Golf é imbatível – além de instrumentos facílimos de ler e de botões bem posicionados, passa ao motorista a sensação de que o carro está sempre “na mão”.

E na verdade está mesmo, pois o Golf é o único dos três com suspensão independente nas quatro rodas. O 308 e o Cruze têm eixo de torção na suspensão traseira. Ou seja: nas curvas mais radicais, o movimento de uma roda acaba interferindo na roda do outro lado do carro, enquanto as rodas do Golf estão sempre mais bem posicionadas no chão.

Como vimos, temos três ótimos carros disputando uma vaga em sua garagem. Qual deles comprar? Se você tem medo de ficar em breve com um carro desatualizado, infelizmente terá de eliminar o Peugeot 308, pois esse modelo tem no máximo uns 18 ou 24 meses de vida. Não que o carro seja velho – é que a Peugeot demorou demais para lançar essa geração e, para recuperar terreno, talvez encurte o ciclo de vida do produto atual no Brasil. Restam, portanto, o Cruze e o Golf. Em termos de design, o Chevrolet Cruze Sport6 ainda leva vantagem, devido ao seu perfil tipo cupê, seus vincos bem colocados e sua traseira primorosamente bem desenhada. O novo Golf é lindão, sabemos, mas manteve sua característica de ser um hatch conservador. Entretanto, se o carro da GM é mais ousado visualmente, o Golf oferece maior potência específica (100 cv/litro contra 80 cv/litro), menor relação peso/potência (8,8 kg/cv contra 9,8 kg/cv), melhor aceleração (0-100 km/h em 8,4 segundos contra 11,4 segundos), maior pacote de tecnologia embarcada e um conjunto painel/instrumentos/multimídia “matador”. Fique com ele.