26/09/2016 - 9:23
Entre meus amigos na F1 estava George Harrison, um dos beatles, que foi um dos maiores superstars nos anos 1960, mas que era incrivelmente despretensioso quando ia aos GPs. Entre as pessoas que conheci, George era um dos que mais adorava competições. Durante o GP do Brasil, ele costumava ficar em minha casa em São Paulo. E no GP da Inglaterra eu o visitava em sua casa em Henley on Thames, cerca de 60 km de Londres. Infelizmente George faleceu de câncer em 2001, aos 58 anos, muito jovem.
Às vezes, fico surpreso com quantos amigos já perdi. Que dizer? Morte é a inevitável consequência da vida e, se você fosse um piloto de Fórmula 1 nos anos 1970, a tragédia nunca estava muito longe. Entre minha estréia, em 1970, e minha saída, em 1980, perdemos Jochen Rindt, Jo Siffert, Roger Williamson, François Cevert, Peter Revson, Ronnie Peterson, Patrick Depailler e outros. Aqui presto um tributo a todos eles.
Hoje, tantos anos depois, as pessoas continuam perguntando a razão para arriscar minha vida com tantas tragédias ao meu redor. Tudo que posso explicar é que eu vivi para competir. E ainda me sinto dessa forma. Acho que é isso que me une a amigos como Jackie Stewart e Carlos Reutemann. Mesmo hoje, mais de três décadas depois que me aposentei da Fórmula 1: assumimos os riscos porque adorávamos as corridas. Não tínhamos escolha. A alternativa era acompanhar as corridas pela TV. E tendo o talento dado por Deus para competir, não poderíamos ficar simplesmente olhando.
Mesmo hoje, com quase 70 anos, sinto falta de competir, de estar no cockpit, de frear mais tarde, de fazer curvas, de tocar a zebra com o pneu dianteiro, de aproveitar a força do motor, da derrapagem de traseira, de controlar essa derrapagem, de engatar a próxima marcha com o pé no fundo e, sim, sinto falta de ver o carro na minha frente se aproximando, mais perto do que estava antes da curva. Sinto falta disso, de planejar quando e onde iria ultrapassar. Anos atrás visitei a fazenda de um amigo que lá fez uma bela pista de kart de 1,4 km. Meu filho de 6 anos estava comigo.
Começamos a dar algumas voltas, só nos divertindo. Foi muito legal dirigir ao lado do meu filho e ver a alegria em seus olhos. Alguns adolescentes também foram para a pista.
De repente, eu tinha 16 anos novamente, acelerando meu pequeno kart em cada curva. Enquanto eu fazia isso, pensava comigo mesmo: “Emerson, você é maluco, tem mais de 60 anos, eles são todos garotos, para com isso”. Mesmo assim, tentava frear um pouquinho mais tarde, acelerar um pouco mais cedo, achando que estava com meu McLaren correndo com Ronnie Peterson, Carlos Reutemann e Niki Lauda em 1974, mais de 40 anos atrás.
Não tem jeito, competir está no meu sangue.