Nas ruas apertadas e cheias de pedestres do centro de São Paulo, não sei o que chama mais a atenção: a pintura divertida desse J3 ou o fato de eu passar em silêncio absoluto – mesmo acelerando mais que os outros carros. Sob olhares admirados, sinto um certo deslumbramento por estar ao volante de um veículo 100% elétrico, um carro do futuro. Ou quase. Diferentemente de modelos como o BMW i3, esse JAC J3 IEV4 (Intelligent Electric Vehicle 4) não nasceu elétrico. É uma adaptação simples do J3 flex. Não tem regeneração de energia de frenagem, gerenciamento via smartphone, nada disso.

E, diferentemente do BMW, não está à venda aqui no Brasil. Na China, custa o mesmo que a versão a gasolina, graças a incentivos do governo – justamente o que a JAC pretende atrair mostrando o J3 IEV4 aqui, a exemplo do que têm feito outras marcas. “Com a tributação atual, sem incentivos, é inviável”, é o que costumam dizer os executivos. E essa é a mais pura verdade. Como automóvel urbano, seja individual, seja para car sharing (compartilhamento de carros), o carro elétrico é genial.


As baterias do J3 IEV4 no lugar do motor provam que um carro elétrico pode ser mais simples do que se supõe. O painel é limpo, o câmbio tem apenas uma marcha à frente e uma à ré, o quadro de instrumentos mostra o que resta de carga na bateria e o cabo elétrico permite recarga de oito horas em 110V ou de quatro horas em 220V. Com carga total, dá para rodar até 100 quilômetros

Como em todo carro desse tipo, a autonomia é pouca: ele percorre só 100 quilômetros com uma carga completa – no meu cotidiano, é mais que o suficiente para rodar de segunda a sexta. A recarga leva oito horas em 110V e quatro horas em 220V. Ela pode ser feita em qualquer tomada, pois há um poste adaptador para manter em casa e um cabo para pontos de recargas (que alguns shoppings já oferecem). Na cidade, o J3 IEV4 é muito ágil. Com uma marcha à frente e uma à ré, acelera até mais que os outros carros.

Na cabine, só se ouve o leve silvo do motor – e alguns ruídos mecânicos, como do compressor do ar-condicionado (um problema comum a todos os elétricos, já que não há barulho do motor para encobrir outros sons). Problemas? Na pior ladeira de São Paulo, ele ficou empacado, sem força para subir. Mas nada grave, pois é mesmo uma ladeira absurda. Já na estrada, não passa de 100 km/h e, por causa da combinação de muito peso com suspensões macias, a estabilidade é uma tragédia. E isso, somado à autonomia limitada, elimina a vontade de arriscar uma viagem longa. Mas reclamar disso é como reclamar que um superesportivo é ruim no off-road.