Um dos argumentos a favor do uso do etanol como combustível automotivo é que o CO2 (dióxido de carbono) emitido pela sua queima nos motores é captado no cultivo da cana-de-açúcar, zerando as emissões deste gás, um dos principais responsáveis pelo aquecimento global.

Mas o cultivo da cana, com caminhões e tratores a diesel – combustível fóssil – não é tão limpo, pois o carbono deste combustível é extraído, com o petróleo, de camadas profundas da Terra e liberado na atmosfera. Mesmo assim, como sempre frisamos, considerado todo o processo produtivo dos dois combustíveis, o etanol emite 73% menos CO2. E esse número vai melhorar: novos motores de caminhões que usam o próprio etanol e/ou biodiesel, combustíveis renováveis, estão chegando – para uso, inicialmente, justamente no setor sucroalcooleiro.

As novidades foram apresentadas na 17a edição da Fenatran (Salão Internacional do Transporte), realizada no mês passado em São Paulo. As primeiras vieram da MAN, que adquiriu recentemente a VW Ônibus e Caminhões e mostrou, durante o Salão, duas opções: a primeira é um caminhão que usa uma mistura de 70% de etanol e 30% de biodiesel; a segunda, um kit B100, que adapta os motores diesel para o uso de 100% de biodiesel – combustível renovável, derivado de sementes de girassol ou mamona, principalmente. Os testes nas lavouras começam no primeiro trimestre do ano que vem. Já a Iveco, do grupo Fiat, mostrou o motor Iveco-FPT (Fiat Powertrain Techno logies) Cursor 8 E-100. Com seis cilindros em linha, 330 cv e torque de 132,4 kgfm.

Sementes de mamona e de girassol dão origem ao biodiesel que será utilizado junto com o etanol no caminhão da VW

O caminhão da Volkswagen pode rodar com uma mistura de 70% de etanol e 30% de biodiesel

O novo motor, na verdade, é resultado da transformação de um motor movido a diesel. Sistemas de ignição e injeção direta feitos para motores Otto (gasolina ou etanol) tiveram que ser adaptados, em um processo que incluiu modificações nos cabeçotes e em vários componentes que tiveram que sofrer mudanças para resistir ao poder corrosivo do etanol. O Cursor 8 E-100 equipará, inicialmente, o modelo Trakker, o mais utilizado nas lavouras de cana – no segundo semestre do próximo ano.

Mas as vantagens dos novos motores que usam combustíveis renováveis no lugar dos combustíveis fósseis não param por aí. No caso dos motores que utilizam etanol, toda a logística do processo produtivo fica simplificada: as usinas não precisarão mais ter um lugar para armazenar o diesel, não precisarão deslocar caminhões do combustível fóssil (também movidos a diesel) para as usinas – o etanol já está lá, a estrutura para guardá-lo também. Nosso combustível verde está ficando ainda mais verde.