Quando a Audi lançou o A3 Sedan, em 2013, tinha como objetivo expandir sua base de clientes. Abrindo uma nova porta de entrada para seus modelos três volumes, não só permitiu a mais consumidores acessarem o mundo das marcas de luxo/premium como invadiu o território das generalistas – aquelas que vendem em grande volume, com carros de menor custo e menos sofisticados. O A3 de entrada rompeu para baixo a barreira dos R$ 100.000 e veio desafiar as configurações mais completas dos sedãs médios tradicionais, posicionando-se junto ou logo acima delas.

Para conferir se esse (pequeno) salto para o luxo vale a pena, colocamos o A3 para enfrentar o líder de vendas Toyota Corolla e o campeão de desempenho VW Jetta Highline, dois dos melhores sedãs vendidos no Brasil hoje. Enquanto o Corolla é feito em Indaiatuba (SP), o Jetta vem do México e o A3 Sedan, da Hungria (ambos serão nacionalizados este ano). Mesmo assim, os preços são próximos. O Toyota tem duas opções 2.0: XEi, de R$ 87.770, e Altis, de R$ 100.990. O Volks parte de R$ 93.990, sobe a R$ 97.852 com o pacote Exclusive e chega a R$ 103.416 no Premium. Já o A3 1.4 TSI custa R$ 98.190 e, na versão Attraction, vai de
R$ 107.190 a R$ 131.690.

Na tabela de equipamentos foram analisadas as versões mais próximas de R$ 100.000. O Jetta é sempre mais equipado, seguido de perto pelo Corolla e de longe pelo A3 – que, apesar de poucos mimos, é sempre completo em segurança e ainda é o único com freio de estacionamento elétrico. Mas não se trata só de optar entre uma versão básica de um modelo “premium” ou configurações topo de linha de carros mais “populares”. Há variações de porte, potência, dirigibilidade, dinâmica… são carros bem distintos. Principalmente o Corolla, que, por isso mesmo, ficou em último. Vamos lá…

 

3o lugar: Toyota Corolla Altis

Seu motor 2.0 é o único aqui aspirado, mas não o menos potente. O câmbio CVT dessa última geração simula sete marchas e lhe deu mais ânimo: rápido e de relações infinitas, extrai mais do moderno propulsor, garantindo um desempenho próximo ao do Audi. Em situações normais, mantém os giros baixos (2.400 rpm a 120 km/h) e reduz o consumo, garantindo 15 km/l ou mais na estrada (gasolina); quando solicitado e com o botão Sport pressionado, proporciona alguma diversão. Já as suspensões, como sempre, são bastante confortáveis e ignoram o asfalto ruim, mas não são tão boas em curvas mais rápidas (culpa do eixo de torção traseiro).


O Corolla tem acabamento irregular, com superfícies de couro misturadas a plásticos lisos. O ar-condicionado é automático, mas só tem uma zona. A tela do GPS fica baixa e é ruim de de ver sob sol forte (e não há repetição no cluster)

Depois de dirigir o Jetta e o A3 Sedan, voltar ao Corolla é meio que voltar ao… passado? Você passa a reparar mais como sua direção é anestesiada e tem retorno lento, como qualquer exagero faz a dianteira querer seguir reto nas curvas (e não há ESP), como o motor grita, girando alto para fazer o carro retomar velocidade. E percebe que a central multimídia/GPS é mal posicionada – baixa demais e bastante difícil de ver quando bate o sol. A seu favor, o Corolla tem a manutenção mais barata. Se isso te preocupa, é garantia de tranquilidade. Os rivais cobram mais caro nas revisões, que ainda por cima são semestrais (anuais nesse Toyota), e nas peças.


Com túnel central mais baixo, o Corolla acomoda melhor o quinto passageiro

Com maior entre-eixos, há uma leve vantagem para quem viaja atrás, principalmente o quinto passageiro, que aproveita o túnel central baixo. O couro que cobre bancos e painel também agrada e, salvo pequenas falhas, a cabine é digna. O Corolla é, enfim, um ótimo sedã, que leva vantagem sobre rivais em faixas de preço mais baixas e é bem interessante até um ponto… mas com pouca chance aqui, diante da versão “premium” do Jetta e da alta qualidade de um Audi, mesmo que de entrada. Falando nele…

 

2o lugar: Audi A3 Sedan 1.4

Certas concessões não se faz. A Audi fez um sedã 20 cm mais curto que os rivais, mas com bom espaço e todos os itens de segurança. Um carro sem ar-condicionado automático ou bluetooth na configuração básica, mas com acabamento nobre e isolamento acústico impecável. Sem bancos de couro e borboletas no volante de série, mas com alça do porta-malas que não esmaga bagagens. Para completar, o A3 tem direção mais precisa, respostas ao acelerador progressivas e suspensões independentes, silenciosas e eficientes.


Com painel de design minimalista, o A3 Sedan tem melhor posição de dirigir e ótimo acabamento. A tela da central multimídia/GPS fica muito bem localizada e tem escamoteamento elétrico, mas o ar-condicionado não é automático

Sua dinâmica só é igualada pela do Jetta, e o cuidado nos detalhes o bota acima dos rivais. Sob o capô, não se engane pelo motor 1.4: o A3 pode rodar com suavidade e um consumo ridiculamente baixo (17/18 km/l na estrada) ou com desempenho de 2.0. Tudo depende do seu pé direito. Há um turbo lag, mas a transmissão de dupla embreagem e sete marchas é rápida e decidida. Ele tem menos potência, mas com a nacionalização pode ganhar o 1.4 do Q3, de
150 cv (ou mais, pois será flex). Vibração e ruído são baixos, mesmo esticando as marchas (sobre o consumo, apesar de ser um dos carros mais econômicos que já guiamos, ganhou nota C; deve ter havido algum problema no teste).


O espaço traseiro do A3 surpreende e o porta-malas tem alças protegidas

Do lado negativo, além da escassez de equipamentos, é um pouco menos espaçoso e fica muito atrás do Jetta em desempenho. Mas o problema mais grave aparece após a compra, no custo proibitivo das peças e revisões (três a quatro vezes mais caras que as dos rivais; veja quadro “Preço das peças”). A marca tem que trabalhar isso, buscando fornecedores locais para baratear peças e reduzindo o lucro das concessionárias para garantir revisões mais acessíveis. São esses os principais motivos que o deixam aqui em segundo lugar.

 

1o lugar: VW Jetta Highline 2.0 TSI

O Jetta Highline tem a melhor relação custo-benefício. Desde a versão de entrada tem sete airbags e ar de duas zonas, por exemplo, e no pacote topo de linha Premium é muito mais equipado que o Corolla Altis – e não custa nem R$ 2.500 a mais. Além disso, tem espaço quase igual ao do Toyota e acabamento quase tão bom quanto o do Audi, ótima posição de dirigir, baixo ruído e saídas de ar traseiras. Olhando a mecânica, essa vantagem se amplia. Seu 2.0 turbo tem 211 cv e quase 30 kgfm e o câmbio é de dupla embreagem como no Audi, embora com uma marcha a menos.


O acabamento do Jetta é quase tão bom quanto o do A3, assim como a posição de dirigir. Ele é o único com ar de duas zonas. A central multimídia com GPS tem tela pequena e baixa, mas as instruções são repetidas no centro do painel. O botão de partida fica ao lado da alavanca do câmbio

Ao volante, o conjunto impressiona: 0-100 km/h em 7,2 segundos e máxima de 241 km/h. O turbo lag é sensível, mas depois o motor embala muito. Conduzido com moderação, por outro lado, marca 14/15 km/l a 120 km/h. O único problema aparece no trânsito, quando se quer dirigir suavemente: o Jetta é sempre muito arisco; então é preciso dosar bem o pé direito. Já a boa dinâmica é garantida pelo diferencial com bloqueio eletrônico e pelas suspensões independentes, que o tornam tão bom em curvas quanto o A3. As suspensões traseiras são um pouco mais ruidosas e o sistema de direção não é tão preciso (tem uma “folguinha”).


O Jetta tem o maior porta-malas, mas as alças podem esmagar a bagagem. Ele perde para o Corolla por pouco em espaço traseiro

São pontos de desvantagem em relação ao Audi, mas ainda muito melhores que no Corolla. Depois da compra, apesar de as peças serem caras, as revisões custam só um pouco mais que as do Corolla – mas para quem roda pouco, têm a desvantagem de serem semestrais. Não é o ideal, mas não é motivo para tirar dele a vitória. Na faixa dos R$ 90.000/100.000, é o mais equipado e tem desempenho muito superior. Sua dinâmica é afiada e o nível de sofisticação o coloca próximo do Audi. Não garante o status do A3, com a marca das quatro argolas na grade, mas entrega mais, principalmente em desempenho. Garante um salto para o luxo e a sofisticação, mesmo sem ser de uma marca de luxo. É a melhor compra.