Minha primeira impressão deste Série 5 foi ruim: o couro dos bancos tem um brilho que lembra sofás de lojas populares. E o problema não é ele ser “ecológico” (denominação usada para couros sintéticos). Afinal, os Mercedes de entrada usam o mesmo material. O que causou má impressão foi o excesso de brilho. Pode ser questão de gosto, mas o uso desse couro mais barato diz muito sobre esse 528i.

Concessões foram feitas para que ele custasse quase o mesmo que uma versão topo do Série 3 com o mesmo motor (o 328i) – e bem menos que o irmão menor com motor seis cilindros (o 335i). Para chegar à cifra de R$ 255.950, a marca economizou não só no motor (um quatro cilindros, quando a tradição manda os Série 5 terem seis), mas também em muitos outros itens, como as portas e porta-malas com fechamento motorizado, o head-up display e os faróis altos automáticos.

Dinamicamente, esse Série 5 prioriza o conforto e cumpre bem a tarefa, mas à custa de suspensões supermacias, que deixam a carroceria inclinar nas curvas e, em certas situações, oscilar excessivamente. Decepciona o ruído vindo das caixas de roda em asfaltos irregulares  ou esburacados – o tipo de barulho que até se espera de um Corolla ou de um Fluence, e não se vê. E que um BMW não deveria ter. A direção tem peso que varia conforme velocidade e modo escolhido, mas nunca é muito esportiva, apenas adequada. Já o motor 2.0 de 245 cv leva o carro de modo surpreendente, ajudado pelo excelente câmbio automático de oito marchas.

Seu principal rival é o Mercedes E 250. Também tem motor 2.0 quatro cilindros, mas as suspensões são melhores e o design acaba de mudar (o desse Série 5 também muda em breve). Mas minha escolha – prepararem as pedras – custaria a metade. Eu ficaria mais feliz com o Ford Fusion. É bem mais honesto: tem o mesmo tamanho e um visual mais bonito. A transmissão não tem oito marchas, mas potência e desempenho são próximos, e ele tem mais tecnologia – monitor de ponto cego, alerta de tráfego cruzado e sistema que estaciona sozinho. Esqueceria que o BMW tem tração traseira (potência e suspensões não permitem aproveitar bem dessa característica) e colocaria o Ford na minha garagem.

CONTRAPONTO
Jamais jogaria pedras em meu colega de trabalho. Mas, desta vez, bem que você merecia. Primeiramente, não acho adequada a crítica ao quatro cilindros. O downsizing é tecnologia, é tendência e é bom para o meio ambiente. E o resultado impressiona. São mais de 35 kgfm entre 1.250 e 4.800 rpm e um câmbio ultramoderno para trabalhar esse torque todo. Lamentar a troca de propulsores, só se for pelo lado emocional, pela tradição, como você mesmo disse. Aí eu até aceito. Mas, por outro lado, você não foi sentimental e purista quando compara o 528i ao Fusion. Numa boa? Não dá! É verdade que esse alemão oferece muito menos emoção do que se espera (apesar de que no modo Sport ele está longe de ser “supermacio”), mas a tocada esportiva de um BMW é sempre um diferencial. A sensação de dirigir é prioridade para a marca e, claro, acaba ficando superior. Por uma questão de gosto, eu caria com o Mercedes que, para mim, é mais feliz ao reunir conforto, esportividade e racionalidade. Já o Fusion – realmente excelente –, vamos deixá-lo em seu devido lugar.

ANA FLÁVIA FURLAN | EDI TORA