Quem procura um utilitário esportivo, em tese, precisa de um espaço interno maior do que o oferecido por outros veículos. Existem ainda aqueles consumidores que escolhem um SUV pelo fato de acharem que estão mais protegidos, graças à sua altura e ao seu tamanho avantajado. Seja qual for a sua real necessidade, ou gosto pessoal, essas duas novidades prometem causar uma reviravolta e esquentar a briga pela liderança do segmento.

MOTOR SHOW já havia adiantado, na sua edição de maio de 2013, a quarta geração do Toyota RAV4. Ele desembarcou nas concessionárias neste mês trazendo duas opções diferentes de motores e de câmbios, além da tração que pode ser 4×2 ou 4×4. Os preços variam entre R$ 96.900 e R$ 119.900. Do outro lado, o best-seller Honda CR-V tem como grande novidade a inclusão do tão aguardado motor 2,0 litros bicombustível. O preço da versão de entrada LX (R$ 98.900) é maior que o do oponente, mas cobra menos na topo de linha EXL (R$ 114.900). Outra mudança na gama do utilitário da Honda é que deixa de existir a versão equipada com o câmbio manual de seis marchas por causa da baixa procura dos consumidores.

O RAV4 (sigla para Recreational Activity Vehicle 4-Wheel Drive) parece ter mergulhado na fonte da juventude e de lá saiu completamente transformado. Sacudiu a poeira e abandonou de uma vez o visual “careta” da geração anterior. Ele também é o primeiro modelo da Toyota vendido aqui com a nova identidade visual do fabricante – chamada de “Keen Look” – e que dará ares de modernidade ao próximo Corolla. Um dos destaques está na dianteira, com os para-choques exibindo detalhes em preto, faróis pontiagudos e a grade cortada por uma barra transversal, que deixa o emblema da marca em evidência. Na lateral, a linha de cintura manteve-se alta. Além de reformulado esteticamente, o RAV4 ganhou uma nova plataforma.

As dimensões cresceram quando comparadas às do antecessor. Ele espichou e está 20 cm mais longo, 2,5 cm mais baixo e ainda ganhou 10 cm a mais no entre-eixos –, o que cooperou para o maior espaço atrás. Quatro adultos viajam confortavelmente. Apesar do túnel da transmissão ser baixo, e o assoalho praticamente plano, o terceiro ocupante não se acomoda de uma maneira muito cômoda. Em contrapartida, o encosto do banco traseiro pode ser reclinado e é muito útil em viagens longas – um bem-estar também oferecido pelo CR-V.

O interior do Honda, em comparação com o rival, se destaca pelo visual moderno do painel, do console e a alavanca do câmbio em posição elevada. A cabine do RAV4 não acompanha o desenho arrojado do exterior. Já o Toyota peca pelo típico conservadorismo da marca, que aparece no simplório quadro de instrumentos e no rádio CD Player com entradas auxiliares de visual antiquado. Também incomoda o tamanho diminuto do relógio digital e do monitor dos sensores de estacionamento. No entanto, o acabamento adotou uma solução inteligente para aumentar o requinte e esconder esses “erros”. Algumas partes plásticas foram substituídas por uma espécie de couro sintético e aparecem detalhes imitando fibra de carbono para aumentar a jovialidade e a esportividade do conjunto final. Em ambos, no entanto, faltam itens como GPS, câmera de ré (no Honda não há sensor) e ar digital, esperados nessa faixa de preço.

Em questão de ergonomia, ambos oferecem os ajustes de altura e distância dos bancos dianteiros e da coluna de direção, além do volante com os comandos de áudio integrados. No RAV4, o espaço para a cabeça dos passageiros da frente aumentou em 10 cm e a posição de dirigir está mais baixa quando comparada ao modelo antecessor. Entre os equipamentos de série, a versão de entrada do utilitário da Toyota (avaliada) traz o pacote básico com direção hidráulica, ar-condicionado manual, computador de bordo e os sensores de ré – praticamente os mesmos itens pelo CR-V LX (confira tabela).

É no quesito porta-malas que o RAV4 revela o seu ponto fraco. O compartimento de carga foi de 540 para 410 litros. Um dos motivos é o estepe que passou a ser transportado dentro do veículo. Além disso, o pneu sobressalente tem a mesma medida dos demais (na Europa, o modelo traz um kit de reparo para ser usado quando o pneu fura). Já o Honda agrada com os seus 589 litros de capacidade com os bancos em posicão normal.

Outra desvantagem do RAV4 está no seu motor 2,0 litros movido apenas a gasolina. Como já dissemos anteriormente, a grande novidade do CR-V é a chegada do motor flexível com a tecnologia FlexOne, que estreou no início deste ano no Civic. No lugar do reservatório da partida a frio (o tanquinho), um sistema aquece o combustível antes de ele ser injetado dentro dos cilindros garantindo, dessa forma, partidas mais e cientes mesmo nos dias mais frios.

A Honda também providenciou uma maior autonomia ao modelo. O novo tanque de combustível com 71 litros – 13 litros a mais do que o usado anteriormente – permite que se façam viagens mais longas com menos paradas, o que agrada esse tipo de consumidor, que tem a sensação de menor consumo. O RAV4 tem um reservatório de 60 litros. Além disso, o CR-V tem o modo ECON que, quando acionado, altera parâmetros do veículo para privilegiar o consumo e ao mesmo tempo ensina o motorista a dirigir de uma maneira econômica. A potência e o torque dos “rivais” é semelhante. Uma das queixas dos consumidores era falta de fôlego do CR-V nas ultrapassagens ou nas subidas íngremes. E, ao que tudo indica, essa reclamação não irá mudar. Enquanto o RAV4 ataca com uma transmissão continuamente variável, que simula sete marchas com opção de trocas sequenciais, o Honda faz uso de um câmbio automático de cinco marchas. Mas ambos são su cientes para a proposta, ágeis nas retomadas, mas nenhum dos dois arranca suspiros por conta do desempenho.

Em segurança, trazem de série airbags e ABS. No RAV4, quem desejar as bolsas de ar laterais, assim como a tração integral, o arcondicionado de duas zonas, a câmera de ré, os ajustes elétricos dos assentos e o teto solar, terá que escolher entre a versão intermediária (R$ 109.900) ou a topo de linha (R$ 119.900). Esta última é equipada com o motor 2,5 litros de 179 cv e câmbio automático de seis marchas.

A garantia é de três anos para os dois modelos, mas o Toyota preserva mais o seu bolso quando o assunto são as revisões e a sua manutenção. O valor das três primeiras revisões do RAV4 sai mais em conta (con ra tabela), e suas peças são mais baratas. Para completar, o seguro, com base no melhor perfil, custa menos no RAV4. Em contrapartida, existe um maior número de concessionárias Honda espalhadas pelo Brasil.

A Toyota espera comercializar 800 unidades/mês desse modelo e essa poderá ser a brecha do RAV4 para atormentar a vida da Honda, que tem cota de importação mais comprometida porque traz outros modelos de fora do País. Mas ela não deve deixar barato: fontes internas afirmam que, se for preciso, irão trazer o CR-V além da cota, ainda que precisem subir o preço. É a lei da oferta e da procura.