“Chega de adiar, está na hora de cada um fazer a sua parte. O planeta agradece.” Com essa frase, o piloto Klever Kolberg justi cou a decisão de cancelar sua aposentadoria e participar da 32a edição do Rally Dakar a bordo de um Mitsubishi Pajero Flex abastecido com etanol. Segundo o gaúcho radicado em São Paulo e um dos mais experientes pilotos brasileiros em competições off-road, a ideia era transferir o foco da competitividade para a sustentabilidade e levar as pessoas ao questionamento. E funcionou. Durante as etapas, a curiosidade era enorme. “Algumas pessoas nos perguntavam o que é o etanol e justamente queríamos fazer o mundo saber que o etanol é um combustível limpo e renovável”, conta o piloto.

Acima, o Pajero no rali realizado na Argentina e no Chile. O Brasil quer entrar na rota

A tecnologia ex e o etanol da cana, que pela primeira vez fez parte dessa competição, ganharam as manchetes durante toda a realização da prova, realizada, pela segunda vez consecutiva, na América Latina (Argentina e Chile), entre os dias 1o e 17 de janeiro. “Para mim, foi difícil deixar o lado competitivo, mas tenho certeza de que todos que participaram do projeto estão orgulhosos”, a rmou Kolberg.

A equipe Valtra Dakar Eco Team não teve uma performance de ponta, mas isso já era esperado. Na categoria Experimental, Kolberg e o navegador Giovanni Godoi tinham como objetivo terminar o rali e provar a viabilidade do projeto. O Pajero teve problemas na embreagem e foi desclassi cado na última etapa, mas, mesmo assim, cruzou a linha de chegada no dia 17 de janeiro.

A equipe brasileira precisou exportar oito mil litros de etanol e aumentar a capacidade do tanque do Pajero para 560 litros

Quem imagina que o principal problema enfrentado pela equipe tenha sido a altitude e o frio da Cordilheira dos Andes se engana. No sétimo dia da competição, chegaram aos quatro mil metros de altitude sem problemas com motor ou combustível. “Desempenharam bem suas funções”, comentou Kolberg.

O grande entrave foi em relação ao peso do carro. Como não há postos de etanol na Argentina e no Chile, eles tiveram que exportar oito mil litros de combustível e precisaram aumentar a capacidade do tanque. O reservatório, que tinha 80 litros, cedeu lugar a um outro, produzido em kevlar, com 560 litros. Por isso, o primeiro abastecimento durou 32 minutos. “Ficamos pelo menos 400 kg mais pesados por conta disso”, contou Kolberg.

A ideia do piloto brasileiro era provar que um carro comercial movido a etanol poderia fazer uma viagem como a promovida pelo Dakar. Por isso, o carro foi para a corrida praticamente original. “O Pajero Full foi com prado em uma concessionária, emplaquei e o levei para a o cina para iniciar a preparação”, revelou Kolberg.

O primeiro passo foi retirar a forração e instalar santantônios. Feito isso, o câmbio automático foi trocado por um manual e o sistema de injeção foi recalibrado. As suspensões foram mantidas, mas com amortecedores Ohlins de competição, dois para cada roda. Os discos de freios foram trocados pelos 16″ da Fremax, desenvolvidos para a prova. Os pneus escolhidos foram Pirelli Scorpion A/T e o escape passou a ser lateral.

“Conforme as dificuldades apareciam, as pessoas falavam: ‘Cara, desiste! Corre com um protótipo. Você vai correr mais e gastar menos'”, relembra Kolberg. Mas seu sonho era correr com um carro de rua. E foi o que fez. Agora, tem outro objetivo: colocar o Brasil na rota do Dakar. A julgar pela obstinação do piloto, não devemos duvidar que consiga realizar mais essa proeza.