Não está nada fácil ser proprietário de um automóvel no Brasil. Se já não bastassem os tributos – Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), seguro sobre Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores (DPVAT), licenciamentos –, a cobrança para controle da emissão de poluentes, multas abusivas e os pedágios, uma nova modalidade de furto foi revelada. Além da adulteração do combustível, alguns donos de postos partiram para a adulteração das bombas eletrônicas. O objetivo é fazer com que a máquina entregue menos combustível do que os indicadores digitais estão apontando. Funciona assim: você compra e paga, por exemplo, 20 litros de gasolina, mas apenas 18 litros entram no tanque do carro. A cada “freguês” que abastece, o posto ca com 10% do combustível pago. Isso é um furto. Como se estivessem roubando dinheiro do seu bolso ou batendo a sua carteira. Empresas desonestas, encarregadas de fazer a manutenção dessas bombas, criaram placas eletrônicas so sticadas, que adulteram completamente a operação. No exemplo citado, são 10%, mas na realidade, é o empresário que escolhe quanto vai roubar.

O sistema é tão so sticado que o dono ou gerente do posto tem um controle remoto no bolso. Se surge uma scalização repentinamente, um simples toque em um botão faz as bombas voltarem a marcar novamente com rigorosa precisão: pagou 20 litros, levou 20 litros. Um sistema tão so sticado e funcional que ca difícil imaginar que foi desenvolvido no fundo de um quintal, de forma artesanal. Acredito que uma cadeia muito mais complexa e poderosa está por trás das empresas e de seus funcionários que vendem e instalam o sistema para os postos ladrões. Uma fraude difícil e complicada de ser comprovada.

A denúncia, feita pelo programa Fantástico, da Rede Globo, no mês de janeiro, levou à lacração de vários postos pelo Brasil e expôs a fragilidade da distribuição e venda de combustíveis no País. Um negócio que movimenta muitos milhões diariamente e, por isso, atrai o interesse dos menos honestos. Não se sabe quantos e quais postos ainda dispõem do dispositivo. A recomendação é que se abasteça sempre em grandes redes, de marcas tradicionais, que teriam muito mais a perder se fossem descobertas com combustível “batizado”ou nessa nova falcatrua. Mesmo que se pague um pouco mais caro pelo produto, é melhor reduzir os riscos de estragar o carro com gasolina ruim ou de ser lesado por uma bomba bobinha, que não sabe contar.

Douglas Mendonça | DIRETOR DE REDAÇÃO