Repetir uma fórmula de sucesso é sempre menos arriscado do que inventar uma nova: especialmente no âmbito industrial, é quase uma apólice de seguro contra eventual fracasso comercial. Vejamos o caso do BMW Série 3, referência quando se fala em sedãs esportivos: seus rivais diretos – Jaguar XE e Alfa Romeo Giulia, principalmente – sabiamente tentam replicar seu estilo, dinâmica e tecnologia.

Mesmo que a imitação seja a mais sincera das adulações, o novo Volvo S60, que chega no final de 2018, não tem intenção de copiar o BMW Série 3. Muito pelo contrário: a proposta da Volvo se concentrará nos três pilares que tornaram a marca sueca (hoje na mão dos chineses) famosa: conforto, segurança e inovação. Os aficionados por desempenho, órfãos das versões Polestar – que se tornou marca independente – terão que se contentar com os “atléticos” R-Design. Em outras palavras, a esportividade não será a maior das prioridades, decisão resoluta e um tanto inusitada. De qualquer forma, deve resultar em uma fascinante batalha Suécia-Alemanha, pela qual não se esperava: um Davi contra Golias potencialmente capaz de instaurar um novo equilíbrio na briga entre os sedãs médios-grandes.

Com cerca de 4,75 m de comprimento, uma dezena de centímetros a mais que o S60 atual, o novo sedã usará a plataforma modular SPA, já adotada no XC60 e na família 90. Os motores serão os mesmos da perua V60: variações da unidade 4 cilindros turbinada de 2 litros, com versões a gasolina de 250 e 310 cv, além de opções híbridas plug-in com tração integral de 340 e 390 cv (haverá também, ainda, opção a diesel para os europeus).

Terá, sempre de série, os já conhecidos sistemas de frenagem de emergência automática com reconhecimento de pedestres e ciclistas e, opcionalmente, o sistema Pilot Assist, que assume totalmente o volante em estradas bem sinalizadas e em situações de anda-e-para no trânsito, de 0 a 130 km/h.

Aposta no 40

E tem mais: se a história de “renascimento” da marca sueca tem um destaque, é a família 40 – que representa os modelos mais compactos da fabricante, com comprimento na faixa de 4,40 m: uma fatia de mercado de suma importância hoje em dia. A espinha dorsal do projeto 40 é a plataforma CMA (sigla em inglês para Arquitetura Modular Compacta), desenvolvida em sinergia com a Geely e que estreou no utilitário esportivo XC40.

O entre-eixos do S60 (acima, em nossa projeção) chega a 2,87 m (como no V60, e nove centímetros a mais que o atual). Os motores são transversais dianteiros, enquanto as suspensões têm duplo triângulo na frente e multilink atrás. Nas versões mais potentes, câmbio automático de oito velocidades e tração integral

“A gama 40 vai crescer”, disse Håkan Samuelsson, CEO da Volvo, no ano passado: “Além do hatchback [o V40, do qual falamos no box], estamos ainda avaliando se produziremos o sedã”, revelado como conceito há dois anos. Uma declaração prudente que, com esse “se”, põe em dúvida o futuro da produção do S40. No entanto, seria estranho a Volvo renunciar a um segmento – o de três volumes premium compactos – que está em expansão, com modelos como Audi A3 Sedan, Mercedes-Benz Classe A Sedan e, na China, BMW Série 1 Sedan: todos carros novos de pedigree nobre e com opção de tração integral. E daí? Daí que pode ser que esse três volumes chegue, mas não com a marca sueca, e não com o nome S40.

Elétrico no horizonte

Segundo alguns rumores, a Geely, que controla a Volvo e as recém-nascidas Polestar e Lynk & Co., poderia converter o projeto do S40 no já anunciado Polestar 2, um sedã elétrico de porte médio previsto para o final de 2019 – e que terá como alvo o Tesla Model 3, como escrito claramente em uma nota oficial do fabricante. Logo em seguida, será a vez do primeiro carro da marca Volvo 100% elétrico, sempre com base CMA – várias fontes dizem que será o XC40 que acaba de ser lançado no Brasil – e com a capacidade de escolher entre “duas baterias, com diferentes capacidades, uma mais acessível e outra com maior autonomia”: palavra de Henrik Green, chefe do departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Volvo. Em relação à autonomia, o próprio Samuelsson deu a dica: “Acreditamos que o mínimo aceitável são 250 km. Subindo na oferta, chegaremos aos 400”. Enfim, o limiar psicológico de 500 km com apenas uma recarga parece, nesse ponto, uma questão de pouquíssimos quilowatts.


A segunda vida do V40

O atual V40 é um legado da era Ford, desenvolvido na antiga plataforma do Focus. A nova geração do modelo sueco estreará em 2020. “As formas do V40 estão bem consolidadas” aos olhos dos clientes, mas a aparência sofrerá uma “grande evolução”, confirma Lex Kerssemakers, executivo da Volvo. Portanto, a configuração de hatchback com toques de perua permanecerá. Por outro lado, serão totalmente novos os detalhes estéticos e a base construtiva: o carro explorará a arquitetura CMA, desenvolvida em parceria com a chinesa Geely. Já usada no XC40, será base para outros modelos do grupo, inclusive os elétricos.