Um comparativo entre Jaguar XJ e Land Rover Range Rover Vogue? Não exatamente. Bem, vamos começar com um pouco de história. Na verdade, foi a americana Ford a responsável por unir Jaguar e Land Rover. Comprou a primeira em 1990, e, dez anos depois, a segunda – das mãos da BMW. Assim, meio por acaso, as duas marcas inglesas começaram um casamento que já dura 13 anos. Hoje não são mais parte da Ford – foram vendidas à indiana Tata em 2008. Apesar dessa conturbada história, talvez agora sejam mais inglesas do que nunca. Surpreendentemente, vêm fazendo carros cada vez mais fiéis às suas origens, desenvolvidos e fabricados na Inglaterra.

Nesses anos de união, a dupla organizou as finanças e investiu no futuro. Vem aos poucos abandonando plataformas e outras lembranças de suas aventuras anteriores. Até há pouco, os Land Rover tinham elementos construtivos e motores BMW, enquanto os Jaguar tinham resquícios de seu relacionamento com a Ford. Agora, compartilham motores, transmissões e fornecedores próprios – e, em breve, dividirão plataformas. Apesar de tanto em comum, Jaguar e Land Rover seguem como marcas independentes, que miram consumidores diferentes – mas igualmente exigentes. Embora incomparáveis, ambas buscam a perfeição, e, aqui estão seus modelos topo de linha que pretendem ser os melhores em seus segmentos. Será que conseguem?

As similaridades entre Vogue e XJ vão muito além do preço acima dos R$ 500 mil. Começam pelo poderosíssimo motor V8 supercharged de 510 cv e 63,7 kgfm. Acoplado a ele, ambos trazem a rapidíssima transmissão automática ZF de oito velocidades, que leva força para as rodas traseiras do XJ e, claro, para as quatro rodas do Range. Essa última característica, aliás, já é um claro sinal de que se tratam de animais bastante diferentes. O Jaguar, obviamente, é o felino: mais veloz, mais rápido, mais ágil. Já o Land Rover é um… bem, difícil definir. É quase tão rápido quanto o felino, embora bem mais pesado; é também mais bruto, e um pouco menos ágil; mais intimidador, versátil e incansável, mas menos focado.

No interior dos dois, é marcante a presença do luxo absoluto e, mais uma vez, de muitos elementos compartilhados. São iguais o couro nobre que cobre cada milímetro de suas cabines, da mais alta qualidade (de produção artesanal a partir de gado inglês); os bancos com inúmeros ajustes elétricos e ventilação, aquecimento e massagem (no Range, também nos traseiros, que ainda são reclináveis); o sistema de som Meridian com 825W, muitos alto-falantes e altíssima fidelidade; o controle remoto com tela de LCD, as telas individuais e os fones sem fio para entreter quem viaja no banco traseiro; o ar-condicionado com quatro zonas e a tela dianteira dual view, que exibe imagens diferentes para motorista e passageiro; o painel de instrumentos “virtual”, com mostradores configuráveis. Até nos defeitos, são similares. A interface do sistema multimídia – e, principalmente, do mapa do navegador GPS – podia ser mais moderna e a tela sensível ao toque deveria responder mais rapidamente. Para completar, a lista de equipamentos também é bastante similar, com alguns itens a mais no Range Rover (confira detalhes na tabela de equipamentos). Mas voltemos à questão principal. São os melhores de seus segmentos? Bem, aí voltamos às marcantes diferenças entre os dois.

Ao volante, o Jaguar, em grande parte justamente por ser um sedã, garante mais esportividade. Leva vantagem na aceleração, pois é mais leve e tem uma posição de dirigir bastante esportiva, baixa e envolvente. No modo mais permissivo do controle de estabilidade, o XJ deixa a traseira escapar um pouco nas aceleradas, descarregando adrenalina na corrente sanguínea do motorista. Já no modo Dynamic enrijece um pouco os amortecedores, mas o XJ não chega a ter a qualidade do chassi BMW M ou um Mercedes AMG. Ainda é macio demais. Quer relaxar? Volte ao modo confortável, dose o pé no sensível acelerador e trafegue com classe. A cabine é tomada pelo silêncio, o asfalto ruim é ignorado, você está em um ótimo sedã de luxo. A maior crítica fica por conta da direção, leve demais. Boa para andar relaxado; acelerando tudo, não passa toda a sensação de segurança que deveria.

Já no Range Rover, é difícil achar motivo para críticas. A carroceria de alumínio corrigiu em parte o problema do excesso de peso. Mesmo onde deveriam aparecer seus maiores problemas, como nas curvas – por se tratar de um SUV – a eletrônica atua com competência, ajustando a suspensão para que compense a rolagem da carroceria, de modo surpreendente. O peso da direção é mais correto e as suspensões equilibram melhor conforto e estabilidade.

No fim, respondendo à questão inicial, o Jaguar, apesar do luxo absoluto da cabine, que certamente está entre as mais refinadas oferecidas hoje no mundo, apresenta pequenas deficiências dinâmicas que seriam aceitáveis em outros segmentos, mas não em um que tem modelos como Mercedes Classe S e Audi A8. Quem sabe na próxima geração, que deve chegar em pouco mais de um ano. Já o Range Rover Vogue mostra que é, sim, um dos melhores – se não o melhor – SUV de luxo do mundo. Difícil achar outro modelo que case com tanta classe alta tecnologia, insuperável capacidade off-road e um design clássico – atualizado criteriosamente.