Na Fórmula 1 atual correm cinco campeões mundiais: Fernando Alonso (2005/06), Kimi Raikkönen (2007), Lewis Hamilton (2008), Jenson Button (2009) e Sebastian Vettel (2010/11/12/13). Entre eles, o único que o circo do grand prix considera no mesmo nível de Vettel é Alonso. Mas mesmo essa comparação está cada vez mais fraca – as nove vitórias seguidas de Vettel em 2013 e seu quarto título consecutivo já o colocaram como um mito do esporte. Alonso ainda não chegou lá. Por isso, comparamos Vettel com outros quatro mitos da Fórmula 1: o pentacampeão Juan Manuel Fangio (1951/54/55/56/57), o tricampeão Ayrton Senna (1988/90/91), o tetracampeão Alain Prost (1985/86/89/93) e o heptacampeão Michael Schumacher (1994/95 e 2000/01/02/03/04).

Cada um desses gênios construiu sua vitoriosa trajetória com um estilo diferente. O mais longevo desses mitos, sem dúvida, é o argentino Fangio. Seu recorde de cinco títulos, sendo quatro consecutivos, durou 45 anos e só foi igualado em 2002, quando o alemão Schumacher chegou ao seu tricampeonato pela Ferrari e ao quinto título, somando os dois que havia ganhado pela Benetton. Fangio já tinha sido ameaçado algumas vezes: os escoceses Jim Clark (1963/65) e Jackie Stewart (1969/71/73) fizeram fama, mas um morreu cedo e o outro parou de correr ao alcançar o terceiro campeonato. Depois, na segunda metade dos anos 1980 e comecinho dos anos 1990, outros dois supercampeões detonaram muitos recordes: o francês Prost e o brasileiro Senna, que protagonizaram um dos mais fantásticos duelos da F1. Mas Senna – um velocista como Clark – também morreu cedo e Prost se contentou com os quatro títulos e (na época) o incrível recorde de 51 vitórias.

Foi necessária a inacreditável campanha de sete títulos mundiais, sendo cinco consecutivos, e de estonteantes 91 vitórias de Schumacher para que Fangio mais uma vez fosse, digamos, incomodado em seu pedestal. Falando especificamente em vitórias, nem mesmo as 91 ban deiradas em primeiro lugar de Michael lhe deram o mesmo percentual vitorioso de Fangio: o alemão ganhou 30% das corridas que disputou, mas o argentino faturou 47%. Schumacher era um computador e sempre contou com as regalias de primeiro piloto da equipe. Mas Fangio também! Nos anos 1950, era permitido que um piloto saísse da prova por um problema mecânico, mas assumisse o volante em outro carro da equipe, que continuasse competindo, para terminar sua corrida. Fangio usou esse artifício algumas vezes, assumindo o carro que outro piloto levara ao primeiro lugar. Mas a sua categoria, a sua condução limpa e a sua energia em busca da liderança nunca deixaram suas vitórias serem contestadas.

Prost chegou à sua 28a vitória em 1985, quebrando um recorde que vinha desde 1973 nas mãos de Stewart (27 vitórias). Mas ele quase dobrou esse número, atingindo a marca de 25,6% das corridas em primeiro lugar. Seu grande rival, Senna, teve um índice parecidíssimo: 25,4% com 41 vitórias.

Ayrton era mais rápido do que Prost. Nenhuma dificuldade na pista era capaz de pará-lo, tanto que um de seus maiores triunfos foi no GP do Japão de 1988, quando ficou parado na largada e saiu lá de trás para ultrapassar 15 carros, incluindo Prost, e ganhar seu primeiro título. Mas Alain era extremamente rápido durante as corridas e sempre estava no lugar certo quando algum líder quebrava. Vettel, por sua vez, com apenas 120 corridas, ganhou 39 vezes (32%). Ele é tão especial que sua primeira vitória aconteceu no GP da Itália de 2009 numa situação raríssima: chuva em Monza. Seu casamento com o carro da Red Bull nas últimas quatro temporadas simplesmente aniquilou os rivais.

A melhor forma de ver se um piloto é rápido é o seu índice de pole positions. Senna foi o rei da pole, largando 65 vezes em primeiro lugar. Foi superado por Schumacher, com 68 poles, mas não no índice: 40% do brasileiro, contra 22% do alemão.Os tetracampeões Prost (17%) e Vettel (37%) conseguiram 33 e 45 poles, respectivamente, mas… calma… Fangio ainda detém um índice melhor que o de Senna: 29 poles em 51 largadas (57%). Como se vê, é muito difícil comparar grandezas, principalmente por causa das mudanças de regulamento, das características das corridas, da capacidade dos adversários e também devido às fatalidades. Senna foi o único desses cinco mitos que morreu na pista. Por isso, muita gente o considera, principalmente no Brasil e no Japão, o maior piloto de todos os tempos. Fangio ficou um ano afastado por causa de um acidente e ganhou quatro campeonatos seguidos quando voltou. Prost ficou um ano parado e também foi campeão no retorno. Schumacher, entretanto, voltou depois de três anos e foi um fiasco.

Em termos de estilo de pilotagem, Vettel é muito parecido com Schumacher. Senna era mais espetacular. Prost era mais cerebral, paciente, esperando o erro alheio. E Fangio foi o que mais bem se adaptou aos carros da aurora da Fórmula 1. Até onde Vettel poderá chegar? Pelo que fez até agora, Seb tem tudo para ser um dos maiores mitos da história da Fórmula 1. Uma boa chance para conferir isso será na temporada de 2014, com as novas regras para pneus, motores e combustível.