O Mercedes SLS ganhou uma versão roadster, que chega ao Brasil no ano que vem. As charmosas portas asas de gaivota do cupê deram lugar às tradicionais e o teto recebeu uma capota de lona que se abre em 11 segundos. Para alguns, talvez isso tire o brilho do carro. Mas, depois de dirigir o SLS AMG Roadster por cerca de 200 quilômetros, concluí que as asas são um detalhe. Partindo do Principado de Mônaco, percorri estradas litorâneas e, depois, os Alpes Marítimos franceses, encarando desafiadoras montanhas e curvas intermináveis, incluindo um trecho do Rali de Monte Carlo. Não haveria lugar melhor para comprovar a perfeição dinâmica do carro.

O SLS é mais uma prova de que a localização do motor, em um superesportivo, é fundamental. No caso, temos um poderoso V8 dianteiro-central, entre o eixo dianteiro, lá na frente do longo capô. A cabine ca quase sobre o eixo traseiro, onde as enormes rodas aro 20 com pneus 295/30 recebem a força do motor. Também na traseira ca a transmissão, o que ajuda na distribuição quase perfeita de peso, 47% na frente e 53% atrás. Para completar, o motor tem cárter seco, o que possibilitou sua instalação mais próxima do solo, ajudando a baixar o centro de gravidade do carro.

Essa configuração mecânica, sobre chassi e carroceria de alumínio, cria as condições perfeitas para uma absoluta precisão direcional. Mesmo nas curvas mais fechadas, quando eu levava o SLS além do que seria prudente em outros carros, ele continuava “na mão”, respondendo com agilidade e mudando de direção de maneira quase espontânea, com uma aderência assustadora. A comunicação com a estrada é impressionante, direta e limpa; a progressividade da direção é exemplar; e a carroceria, mesmo levada ao limite, não mergulha nas frenagens, não deita nas curvas, não balança… É absolutamente neutro.

O motor V8 aspirado é montado artesanalmente na AMG, divisão esportiva da marca. Lá, cada engenheiro trabalha um motor, que ganha uma placa com a assinatura do responsável. Não é novo, mas foi retrabalhado para chegar a 571 cv e quase 67 kgfm de torque. E toda essa força é levada à transmissão traseira por um cardã de bra de carbono. O câmbio automatizado de dupla embreagem troca as sete marchas com rapidez e tem quatro opções: Comfort, Sport, Sport Plus e Manual. A primeira prioriza o consumo; nas seguintes, a esportividade aumenta. O modo manual, que aciona a shift-light, é recomendado quando se usa as borboletas para reduzidas em aproximações agressivas de curvas. Há ainda um recurso de controle de largada, para garantir a aceleração de zero a 100 km/h em 3,8 segundos. A máxima é limitada a 317 km/h.

No interior, todo o luxo de qualquer Mercedes top de linha. Couro, materiais nobres…

O console central acomoda todos os comandos de acerto de câmbio, suspensão e controles eletrônicos. No painel, uma tela mostra dados de telemetria do carro, como aceleração lateral

As suspensões são esportivas, claro, mas compre o opcional AMG Ride Control. Um botão no console permite variar a rigidez dos amortecedores. No modo mais confortável, diferentemente de muitos superesportivos, o SLS é perfeitamente agradável de ser utilizado no dia a dia. Os outros dois modos, Sport e Sport Plus, reduzem gradativamente a tolerância a buracos e a irregularidades, ao mesmo tempo que aumentam o controle dinâmico na pilotagem agressiva. Foi a que escolhi – e recomendo – para uma aventura nas montanhas.

Dos bancos e do interior não há muito o que falar. A nal, se trata de um Mercedes top e não daria para esperar menos: couro em toda parte, cuidado nos detalhes… Há também um novo sistema AMG Performance Media, que mostra informações de telemetria, aceleração lateral e outros dados do carro em tempo real.

Mas a “cereja do bolo” é o ruído grave do poderoso V8. Com o motor girando baixo, passava discretamente pelos vilarejos franceses, sóbrio. Nas pistas livres em meio a penhascos, acelerando fundo, as trocas de marcha são intercaladas por pequenas “explosões”. Um som grave e forte como o de um trovão. Não há música melhor. É mais um bom motivo para abaixar a capota.