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No segmento de SUVs e crossovers, a barreira de R$ 100.000 hoje já foi rompida até mesmo por modelos compactos como Honda HR-V, Jeep Renegade & cia. Por isso, a chegada do novo Jeep Compass por menos de R$ 100.000 vai abalar o mercado. Afinal, ele já é um modelo médio, do porte de Hyundai ix35 e Kia Sportage, e mesmo na configuração básica vem mais equipado que os rivais de mesmo valor. Para esse primeiro desafio com sua versão Flex, escolhemos o Volkswagen Tiguan, que estreou no Salão de São Paulo essa versão 1.4 TSI.

Ambos são carros globais, mas o Compass é muito mais atual. Afinal, o Tiguan vendido hoje é um facelift da primeira geração, já com dez anos de idade (é de 2007 e chegou aqui em 2009; a reestilização foi em 2011). Em alguns mercados, o Volks até já convive com a nova geração, lançada em 2015 com a plataforma MQB, mais leve e moderna (o Tiguan usa a velha PQ35). Já o Compass acaba de chegar à segunda geração, que estreou mundialmente no Brasil e será lançada na Europa apenas no ano que vem.

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Enquanto o Tiguan é importado da Alemanha, o Compass sai da fábrica da FCA em Pernambuco (daí sua estreia aqui). Por isso, o Volks é mais caro. Com motor flex, o Compass parte de R$ 99.990 na versão Sport e vai a R$ 106.990 na Longitude, que recomendamos. Adicionada de airbags extras (R$ 3.000), seria a mais parecida em equipamentos ao Tiguan 1.4 básico, de R$ 125.990. Por esse valor, entretanto, dá para levar o Compass Limited, mais equipado – até mesmo com faróis de xenônio e monitor de ponto cego, entre outros itens (confira na tabela “Equipamentos”).

De cara, isso dá ao Compass uma bela vantagem. E ao Tiguan, uma grande desvantagem, pois não tem certos itens nem como opcionais e ar automático, sensor de chuva, entre outros, só pagando mais ou comprando o 2.0, que começa em R$ 153.440 e pode passar de R$ 200.000. Ao entrar na cabine, a vantagem do Compass se amplia. O modelo obviamente tem design interno mais atual, devido à idade do projeto, mas não é só disso. Um pouquinho mais largo e com entre-eixos maior, o Jeep tem mais espaço, principalmente no banco traseiro, e assentos dianteiros mais confortáveis, além de cobertos de couro e com ajustes elétricos, itens ausentes no rival.

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Para completar, o painel de instrumentos do Jeep tem uma bela tela multifuncional colorida de 7” (monocromática e pequena no rival) e central multimídia maior, com 8,4” (porém sem Android Auto e Apple Carplay, que o Tiguan tem). Ainda vale notar que o acabamento do Compass é mais caprichado, com mais cromados e revestimento das portas em couro, além da opção (gratuita) de couro claro, que dá um ar mais chique (porém suja fácil). Ambos têm saídas de ar traseiras e podem ter teto solar panorâmico – o do Compass mais barato. O Jeep só perde no porta-malas, 60 litros menor quando o Tiguan está com o banco traseiro corrediço para a frente (que limita o espaço para as pernas).

Na mecânica, soluções distintas. Enquanto o “novo” Tiguan adota o motor 1.4 turbo com injeção direta, que não é flex, o Compass tem o 2.0 Tigershark flex – moderno, mas aspirado. O primeiro oferece maior torque, e disponível desde rotações mais baixas, enquanto o segundo ganha na potência. Ambos têm tração dianteira (novidade no Tiguan) e transmissões de seis marchas, mas ela é uma automática tradicional no Jeep e automatizada com dupla embreagem no Volkswagen. Ao volante, essa diferença fica bastante clara. Graças ao downsizing e ao câmbio mais rápido e com menos perdas mecânicas, o Tiguan anda mais e gasta menos.

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Mesmo com um apenas discreto turbo lag, ele responde mais vigorosamente ao comando do pé direito em acelerações e retomadas (0-100 km/h em surpreendentes 9s2, ante adequados 10s6 do rival). No Compass, o acelerador demora mais a responder ao comando, mesmo quando se usa a borboleta para antecipar a redução de marcha. Talvez seja para privilegiar a suavidade ao rodar e o conforto. Quando reage, porém, o Jeep tem um ronco grave, mais gostoso que o do rival. Ronco, vale frisar, que só se ouve pisando fundo, graças ao ótimo isolamento acústico, bem melhor que no irmão Renegade. Com pouca carga no acelerador, não se ouve ruído nem de motor, nem de vento (mesmo em velocidades impublicáveis).

Em velocidade de cruzeiro (120 km/h), ambos rodam em silêncio na faixa de 2.500 rpm, mas o Tiguan gasta menos. Com gasolina, sofremos para fazer 10 km/l com o Jeep, mas marcamos 12 km/l no Volks com facilidade, graças também ao sistema de “banguela automática”, que desacopla motor e câmbio sempre que se alivia o pé direito. Na cidade, a vantagem do Volks é maior, graças não só ao motor menor e a esse sistema, mas também ao start-stop (desliga o motor em paradas). Além da mecânica superior no desempenho e consumo, o Tiguan ainda tem um comportamento dinâmico um pouco melhor.

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Ambos têm suspensão traseira independente, mas o sistema multi-link do Tiguan é superior ao encarar curvas à mais simples MacPherson com links transversais do Compass. O Jeep também é mais alto, o que garante uma posição de guiar mais elevada, mais próxima da vista em um SUV de verdade, mas o prejudica nas curvas. Ao encarar estradas e ruas esburacadas, por outro lado, as suspensões do Tiguan se deixam ouvir trabalhar muito mais, enquanto as do Jeep impressionam pelo silêncio. Em caso de abusos, ambos têm controle de estabilidade, com a vantagem extra do auxílio de partida em subidas (e freio de estacionamento eletrônico).

No fim, o Tiguan leva vantagem considerável na mecânica, que se reflete em melhor desempenho e menor consumo, mas ele não é flex, peca na lista de equipamentos de série (e também nos opcionais) e tem um desenho cansado. Enquanto isso, o Compass se destaca em preço, equipamentos, acabamento e visual interno, conforto e atualidade do design – sem falar na posição de dirigir mais alta, um dos principais motivos de compra no segmento.

Assim, embora as notas finais sejam bastante próximas, com uma vantagem bastante pequena para o Volks, os preços muito mais atraentes pesam bastante a favor do novo Jeep nacional. Se você é apaixonado por esportividade e prazer ao volante e está comprando um crossover/SUV por outros motivos, o Tiguan é a escolha certa. Mas se busca características clássicas de SUVs e mais conforto, mimos e status – ou prioriza a relação
custo-benefício –, não há como não optar pelo Compass.

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